Nova pesquisa estuda contribuições de escolas democráticas para o ensino público

Escolas democráticas são alvo de novo estudo que busca compreender a influência de metodologias de ensino inovadoras

Pesquisa mostra como cenário e contexto atual interferem diretamente nos métodos e na qualidade de ensino. O Jornal da Gazeta/ Ricardo Sousa DE J. Júnior. Reprodução

Por Mateus de Lucena Feitosa – mateuslfeitosa@gmail.com

Na esteira de discussões das novas reformas de ensino médio, o pesquisador Felipe Oliveira, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), dedicou o tema de sua dissertação de mestrado, Escolas Democráticas na perspectiva da psicologia escolar: contribuições para educação pública, para a colaboração de escolas democráticas ao ensino público brasileiro, buscando pensar na educação a partir da psicologia.

Contrário à visão liberal da psicologia – que responsabiliza somente os alunos pelo seus fracassos – Oliveira pretendeu não só mostrar a complexidade do processo de educação e da dimensão das políticas públicas que influenciam na forma como os estudantes são formados, mas como cenário e contexto atual interferem diretamente nos métodos e na qualidade de ensino.

Para o pesquisador, o cenário brasileiro não difere da América Latina como um todo. “Não vivemos em uma especificidade do Brasil, existe toda uma caracterização da  América Latina que é bastante semelhante”, diz. De acordo com os dados da Cepal, (Comissão econômica para América Latina e Caribe) 6% da população latina não tem acesso à educação, o equivalente a quase 36 milhões de pessoas. Ainda que os outros 94% tenham acesso à educação muitos não finalizam os estudos. “Muitos alunos entram no ensino público, vão até o final, porém não aprendem muito” comenta.

O foco do estudo, apesar de buscar investigar todo o ideário político-pedagógico que embasa a concepção de todas as escolas que adotam esse modelo inovador, é o ensino público brasileiro. O pesquisador entrevistou a diretora da Escola Municipal de Educação Fundamental Desembargador Amorim Lima, escola de modelo democrático de maior visibilidade – inserida totalmente na rede pública.  A sua maior dúvida girava em torno do fato de como esse modelo de educação pode existir dentro da rede pública respeitando os parâmetros legais. “Existe uma possibilidade de flexibilidade na legislação em torno da educação’’, disse. Permitindo a tentativa de modelos mais radicais que dêem, por exemplo, maior liberdade para o aluno escolher o que quer aprender e criatividade ao formato do sistema de avaliação que deixa de girar em torno da prova tradicional.”  A lei exige a avaliação do aluno, porém não especifica como isso deveria ser feito’’, completa.

Quando questionado sobre a dificuldade dos alunos frequentadores dessas escolas de se adaptar ao vestibular e conseguirem ter acesso a uma boa faculdade, Oliveira diz que as opiniões divergem. Por um lado há aqueles alunos que sentem dificuldade em estudar para as provas por não estarem acostumados a este modelos, enquanto outros se sentem completamente capacitados. ‘’ A verdade é que temos que discutir o vestibular, ele é uma grande fator limitante e extremamente excludente’’, desabafa. ‘’Temos que pensar em que tipo de aluno queremos formar’’, diz.

Oliveira deixou claro, entretanto, que, apesar das dificuldades e divergências, o modelo de escola democrática tem uma comunidade muito forte apoiando o projeto para que ele possa evoluir. Permanece, mesmo levando em consideração os problemas e limites desta metodologia, enxergando esta inovação como algo necessária para mudança no paradigma da educação brasileira e reforça a influência do contexto como fator limitante. A forma como nos organizamos tem um efeito na forma como educamos. “Não podemos ser ingênuos e achar que podemos ser completamente democráticos em um modelo capitalista, há limites’’. O pesquisador ainda enfatiza a importância da participação da comunidade, da base popular para criar um projeto que de fato seja atemporal e inovador.

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