Mestrado analisa impacto do Mercosul no comércio

Pesquisa evidenciou efeito positivo do acordo, mas alerta para estagnação atual

Mercosur: Flying Flag of Mercosur / Mercosul Trade Union

Por Nelson Niero Neto – nelson.niero.neto@gmail.com

Em 2016, completaram-se 25 anos da fundação do Mercosul pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Devido a sua importância, o bloco constantemente é objeto de discussão por parte de seus associados. A retomada das tentativas de firmar um acordo de livre comércio com a União Europeia e a suspensão da Venezuela são os assuntos que permeiam o Mercado Comum do Sul no momento.

O bloco, por outro lado, também chama a atenção da academia. Pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, o mestrado de Bruno Ferreira Cordeiro buscou avaliar o impacto da organização sobre o comércio dos países participantes.

“Minha questão principal era verificar se o Mercosul gerou criação ou desvio de comércio”, conta Cordeiro. “No primeiro caso, há aumento comercial tanto entre os participantes como também com países de fora. No segundo, os participantes negociam mais entre si, mas em detrimento do comércio exterior”.

Sua metodologia baseou-se no modelo gravitacional, método muito utilizado nos estudos econômicos sobre o fluxo de comércio entre dois países. Ele indica que as transações são proporcionais ao Produto Interno Bruto (PIB) e inversamente proporcionais à distância geográfica, ou seja, quanto maiores o PIB e a proximidade entre as nações, mais viáveis se tornam as trocas comerciais.

O modelo gravitacional, todavia, pode ser aprimorado de acordo com a pesquisa desejada. Por isso, Cordeiro trabalhou com diversos fatores para mensurar o impacto do bloco sobre o comércio sul-americano.

Os principais são relacionados ao acordo em si. “Foram as variáveis de interesse: a  primeira analisava o comércio intrabloco e a segunda as trocas dos membros com nações não participantes”.

Além disso, o pesquisador também considerou no cálculo estatístico fatores que podem afetar o comércio, a fim de encontrar um resultado mais próximo da realidade. “São as variáveis de controle: características mensuráveis que influenciam a economia de um estado ou suas trocas comerciais”, conta Cordeiro. “Sem elas, o impacto encontrado nas variáveis de interesse poderia ser inchado ou impreciso.”

É o caso dos anteriormente citados PIB e distância, mas também do tamanho da população e de proximidades históricas: “Ter a mesma língua ou relação histórica de colônia e metrópole geralmente são facilitadores para o comércio entre dois países”, explica.

Finalmente, Cordeiro também incorporou ao modelo efeitos sobre o comércio que, em geral, não variam ao longo do tempo, como a cultura ou as características institucionais de cada nação.

“Analisando o período de 1991 a 2016 como um todo, há evidências que o Mercosul criou comércio, tanto entre seus participantes como para fora do bloco”, explica Cordeiro. “No entanto, ao olhar para momentos específicos, é possível identificar graus de impacto diferentes”.

O pesquisador esclarece que, na década de 1990, o efeito do acordo sobre o comércio foi mais intenso, em contraste com o período que abrange o início da década de 2000 até hoje. “O impacto do Mercosul sobre o comércio sul-americano diminuiu. A estagnação atual pode ser um indício de que o bloco se tornou mais protecionista, ou não procurou melhorar suas ligações com outras alianças comerciais.”

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