Malária pode causar problemas respiratórios

Pesquisa feita na Faculdade de Ciências Farmacêuticas tenta encontrar tratamento para a doença

Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo causa lesões no pulmão de pessoas com malária grave. Reprodução: pt.wikipedia.org

Por Carina Brito – carinadsbrito@gmail.com

A malária é uma doença conhecida pela maioria dos brasileiros e que causa milhões de mortes por ano. Ela pode ter variadas manifestações clínicas e síndromes, como malária cerebral, anemia severa, lesões no fígado e no rim. Um sintoma não tão comum é a lesão no pulmão que pode acabar causando a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo.

Apesar de não ser tão frequente, quando essa síndrome acontece, a mortalidade é alta e ainda não há muitas possibilidades estabelecidas para o tratamento. Assim que a pessoa desenvolve esse problema, torna-se um quadro para internação em unidades de terapia intensiva. “Uma das características da síndrome é de ser uma doença hiperaguda, ou seja, que acontece muito rapidamente. Não tem como a pessoa esperar muito tempo até perceber que tem algo errado”, diz Sabrina Epiphanio, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e autora da pesquisa A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo Associado à Malária Grave.

Esse paciente já entra no quadro de edema pulmonar, de lesão do tecido e isso impede as trocas gasosas e pode levar o paciente a óbito. Então, não tem como a pessoa conviver com essa doença. “A literatura diz que de 5% a 20% de pessoas com malária grave desenvolvem essa síndrome e a mortalidade chega a quase 80%”, afirma Sabrina.

Ainda não se conhece muito bem a patogênese da doença, ou seja, como ela acontece. Para descobrir isso, foi feito um modelo experimental com camundongos e com cultura de células. O resultado mostrou que o que leva o animal a desenvolver essa síndrome é o acúmulo de neutrófilos, um tipo de célula de inflamação, no pulmão. Outro fator que pode gerar essa doença são as nets, redes de DNA extravascular, que o neutrófilo libera. “Depois que observamos essas lesões fizemos ensaios para ver como bloquear essas ações e realizar o tratamento”, explica a professora.

Foram feitos quatro tratamentos tendo como alvo os neutrófilos para reverter essa síndrome. O primeiro foi utilizar anticorpos anti-neutrófilos, o segundo foi usar DNAs recombinantes para quebrar essas nets, o terceiro foi utilizar uma droga que promove a saída dos neutrófilos nos pulmões e o quarto é o uso de outra droga que faz a quebra dessas estruturas.

Para essa doença existem os tratamentos de suporte, como o anti-malárico, que combate o parasita e internação com tratamentos de ventilação mecânica. Não há drogas especificamente usadas para tratar essa condição respiratória e evitar que a pessoa a desenvolva. “Por isso que um dos intuitos de estudar essa doença é para estabelecer um diagnóstico precoce. Uma vez que a doença é desenvolvida, é muito difícil revertê-la”, diz.

De acordo com Sabrina, muitos laboratórios estudam o desenvolvimento de vacina para a malária, mas isso é complicado porque o parasita é um organismo muito complexo e conseguir atingi-lo a ponto de impedir uma infecção é algo difícil. Existe uma vacina em fase de testes, mas o máximo que se conseguiu foi 50% de proteção. A professora afirma que isso é bom considerando a quantidade de mortes por malária, mas é ruim considerando a eficiência de uma vacina.

Sabrina decidiu estudar isso porque é uma linha de pesquisa com a qual poucas pessoas no mundo trabalham. “Existem mais de 100 laboratórios no mundo que pesquisam malária, principalmente cerebral, mas na parte da síndrome respiratória são poucos laboratórios que estudam. É um campo vasto que tem muita coisa para ser pesquisada e entendida”.

 

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