Pesquisadora estuda obra de cineastas brasileiras durante a ditadura militar

Mestrado ressalta protagonismo feminino na obra de três diretoras de cinema

Parahyba, Mulher Macho (1983). Reprodução: http://www.historiadocinemabrasileiro.com.br/

Por Catarina Silva Ferreira – catarina.ferreirasilvs@gmail.com

Pesquisa em desenvolvimento da Universidade de São Paulo (USP) têm como objetivo analisar a produção cinematográfica de três mulheres cineastas brasileiras. O estudo disserta a respeito do tema de maneira interdisciplinar, refletindo sobre a sociedade brasileira durante a ditadura militar (1964-1985). Com base histórica e sociológica a mestranda Luísa Girardi, Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo  (IEB-USP) alia sua visão à teóricas do movimento feminista. A dissertação é intitulada Cinema sob Mulheres – Uma leitura do cinema brasileiro durante a ditadura.

Girardi analisa três filmes, cada um da obra de uma cineasta diferente. As obras são: Os homens que eu tive, de Tereza Trautman, Mar de Rosas, de Ana Carolina e Parahyba Mulher Macho de Tizuka Yamasaki. A diretora Tereza Trautman foi a primeira mulher a estar à frente de um longa metragem desde a década de 1950. Girardi conta que o filme analisado Os homens que eu tive  foi duramente censurado durante a ditadura apesar de não conter críticas ao regime, e em decorrência disso a carreira de Trautman caiu no ostracismo por décadas. O enredo da obra traz a rotina de um casal que decide viver um casamento aberto, até que Piti, a protagonista,  decide abandonar o marido e seguir seu caminho.

Já a cineasta Ana Carolina faz parte dos círculos do cinema novo e diferentemente de Trautman o filme Mar de Rosas não sofreu grande censura durante a época, no plano central de seu enredo está uma conturbada relação entre mãe e filha que tem como pano de fundo a ditadura.

O terceiro filme é de Tizuka Yamasaki. Segundo Girardi a diretora é dona de um cinema paradoxal, e a obra Parahyna Mulher Macho recupera a trajetória da brasileira Anaíde Beiriz, que teve papel central nos acontecimentos que levaram ao golpe de Vargas na década de 1930.

O protagonismo feminino nos filmes escolhidos por Girardi se dá tanto atrás como em frente às câmeras. As três produções contam com mulheres na direção e produção e nos papéis principais de cada longa. A pesquisadora explica que o recorte escolhido em sua dissertação surgiu a partir da curiosidade de entender um pouco mais sobre como funcionava o discurso da sexualidade no cinema brasileiro durante a ditadura militar.

A mestranda afirma que apesar de o regime militar ter sido um momento de grande tensão e restrições morais, discursos a respeito da sexualidade eram muito presentes no cinema nacional e tinham grande apelo comercial. Porém, tais discursos sempre destacavam a figura masculina como detentora do protagonismo. Nesse aspecto, Girardi ressalta a importância de relacionar os filmes ao feminismo e trazer a discussão de gênero para a academia pois ainda é um ambiente carente de desconstruções.

“Muitos debates feministas estavam acontecendo na época e os filmes de uma certa maneira tratavam desse tema também, como uma coisa meio paralela.”  Girardi cita a importância dos movimentos e coletivos que estavam surgindo durante a década de 1970 e também a ocupação feminina crescente no mercado de trabalho e em carreiras acadêmicas, fator que contrastava diretamente com o militarismo ditatorial e o fato de as figuras de poder durante a ditadura serem, em sua grande maioria, homens.

 

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