USP estuda alternativas para o abastecimento de água em São Paulo

Ensaios do Instituto de Geociências procuram mais informações sobre aquíferos fraturados, abundantes em São Paulo, porém pouco conhecidos

"Foodtruck": Trailer usado para realizar testes hidráulicos em aquíferos fraturados. Foto: Maria Beatriz Barros

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

Diante da crise hídrica que afetou São Paulo nos últimos anos, alternativas para o abastecimento de água são bastante bem-vindas no estado. Nesse contexto, o Instituto de Geociências (IGc) da USP investe no estudo de aquíferos fraturados — unidade geológica subterrânea cujas fissuras funcionam como reservatório de água. Os estudos, pioneiros no Brasil, não só revelam uma alternativa para o fornecimento do recurso mineral, mas também formas de reverter quadros de contaminação d’água.

Aquíferos são reservatórios rochosos de água, localizados abaixo da superfície.  Para extrair o líquido deles é necessário amplo conhecimento sobre as rochas que o estruturam, sua composição, gênese, comportamento hidráulico, entre outras características. Ao passo que existem muitos estudos sobre os aquíferos sedimentares, nos quais a água é armazenada dentro dos poros das rochas, os fraturados vinham sido ignorados, devido seu grau de complexidade. Formados por rochas cristalinas (como granito e basalto), neles os fluídos são armazenados em fraturas interligadas do mineral.

O Processo

A fim de estudar os aquíferos fraturados em São Paulo, Fábio Sartorios, graduando em Geologia pela USP, estacionou no terreno do Instituto de Geociências um trailer, batizado de Foodtruck, munido de equipamentos, a maioria importados do Canadá, próprios para caracterizar as propriedades do poço. “Aqui na região, o embasamento — topo rochoso de granito que suporta a parte superior do solo (formado por sedimentos, depósitos quaternários) — é relativamente raso, então temos muitos aquíferos fraturados.”

Uma vez perfurado o poço, nele são inseridos aparelhos de ultrassom para localizar e traçar um perfil das fraturas. Em seguida, o geólogo estaciona o trailer próximo a perfuração, e passa a realizar ensaios hidráulicos para entender a dinâmica de fluxo de água no aquífero. Sartorio explica o processo: “O sistema principal do trailer são os obturadores pneumáticos. Basicamente, colocamos bexigas compridas acima e abaixo da fratura, injetamos nitrogênio pressurizado nela e, assim, isolamos hidraulicamente certa fissura, de modo que não tenha mais comunicação d’água nem por baixo, nem por cima”.

A partir de então, o especialista simula o comportamento hidráulico da fratura, colocando ou tirando pressão, injetando água, entre outras técnicas.

Aplicações e resultados

O estudo desenvolvido por Sartorio dentro da USP foi um ensaio para o que pode ser feito, em maiores proporções, no estado de São Paulo. “Para o abastecimento hídrico é interessante o conhecimento de aquíferos fraturados, principalmente para São Paulo que teve urgência no fornecimento de água entre 2014 e 2015. São novas formas de captação do recurso, já usadas em outros países, como no Canadá. Com os resultados dos nossos estudos, teremos embasamento para descobrir onde tem água, em qual quantidade e o melhor local para extraí-la”, explica ele.

O trabalho também pode vir a ser uma ferramenta de preservação ambiental, uma vez que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cestesp) não costuma exigir a recuperação das águas contaminadas quando em aquíferos fraturados, tamanha a falta de estudo sobre o tema. “Não existe nenhuma técnica para reverter a contaminação da água nesses reservatórios. Para tal, seria necessário conhecer este aquífero, o fluxo de água dentro dele”, explica Fábio. “O Brasil já se mostrou incapaz de enfrentar crises hídricas, então quanto mais pouparmos o recurso natural e cuidarmos para que ele não falte, melhor.”

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