Células-tronco mesenquimais podem auxiliar no tratamento do câncer e atenuar os efeitos colaterais dos quimioterápicos

Estudo revela que associação terapêutica entre quimioterápicos utilizados para o tratamento de tumores no fígado e células-tronco mesenquimais podem reduzir a massa tumoral e atenuar os efeitos negativos dos medicamentos

O carcinoma hepatocelular (CHC) é um tumor primário altamente fatal que atinge o fígado e acomete aproximadamente 500 mil pessoas no mundo. Foto: Thinkstock/VEJA

Por Letícia Fuentes – lepagliarini11@gmail.com

Um estudo concluído em maio de 2016, na Faculdade de Medicina (FM) da USP, descobriu, em um modelo de estudo animal, que a terapia com células-tronco mesenquimais associada ao tratamento com quimioterápicos em casos de carcinoma hepatocelular pode reduzir o tumor e minimizar os efeitos colaterais. A pesquisa, que faz parte da dissertação de mestrado de Leandro Guariglia D’Agostino, realizou testes em camundongos para determinar o potencial regenerativo e imunomodulador da terapia com essas células.

O carcinoma hepatocelular (CHC) é um tumor primário altamente fatal que atinge o fígado. Segundo dados do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a doença acomete aproximadamente 500 mil pessoas no mundo. Na América do Sul, onde a prevalência da enfermidade é baixa, mais de 80% dos casos ocorre em pacientes portadores de doença hepática crônica.

De acordo com D’Agostino, o CHC é a neoplasia maligna primária mais comum do fígado, sendo a quinta mais frequente e a terceira causa de morte por câncer em escala global. Apesar de nenhum protocolo com resultados satisfatórios no tratamento do tumor ter sido preconizado, a quimioterapia ainda é o método mais utilizado para tentar barrar a doença em seu estágio mais avançado.

A pesquisa

Em seu estudo, o pesquisador se propôs a avaliar a associação da terapia celular com células-tronco mesenquimais a dois quimioterápicos utilizados para o tratamento do CHC, a doxorrubicina e a gencitabina. Para isso, ele avaliou a ação dos medicamentos, tanto sozinhos quanto combinados ao tratamento com as células-tronco. O procedimento foi feito através da inoculação de células tumorais hepáticas de origem animal diretamente no fígado dos camundongos, uma técnica chamada de modelo ortotópico e homólogo de implantação do CHC. “Esse modelo que a gente utilizou é pioneiro. Com ele conseguimos reproduzir os aspectos gerais da evolução e progressão do câncer”, conta.

Os resultados demonstraram que a administração das células-tronco mesenquimais da medula óssea foi eficaz na redução da massa tumoral, assim como na atenuação dos efeitos imunossupressores, tanto isoladamente quanto associadas aos quimioterápicos. Segundo explica D’Agostino, isso se deve principalmente à capacidade de diferenciação das células-tronco. “Ela é uma célula que pode se transformar em outros tecidos. Por exemplo, se quero uma célula para repovoar o fígado, posso utilizá-la para se diferenciar em uma célula hepática”, diz. “Se uso um medicamento que é cardiotóxico, como a doxorrubicina, poderia aplicar uma dosagem de células-tronco mesenquimais e amenizar esse efeito.” Por conta disso, a terapia celular tem alto potencial regenerativo e imunomodulador.

De acordo com o pesquisador, mesmo que os resultados apontem para um efeito positivo do tratamento com células-tronco, é preciso ficar alerta. “A questão mais intrigante é se com o suposto potencial de divisão das células-tronco, por um determinado período de tempo, elas poderiam sofrer alterações genéticas e epigenéticas, resultando em um processo tumoral”, aponta. “Daí a importância do estudo da citogenética no controle e monitoramento das células-tronco cultivadas, que serão utilizadas na terapia com seres humanos.”

Para D’Agostino, a medicina vem avançando nos últimos anos e aponta para um cenário otimista. “Atualmente, um novo tratamento de combate ao câncer vem trazendo mais otimismo no meio científico, a chamada terapia-alvo, que está diretamente ligada à descoberta do sequenciamento do genoma humano”, diz. “Nessa terapia, um alvo, que seria uma alteração molecular específica da célula do câncer responsável pelo mecanismo de geração do tumor, é bloqueado por um medicamento específico. É o chamado mecanismo chave-fechadura”, explica o pesquisador. “Os pacientes candidatos são aqueles identificados por diagnóstico molecular, ou seja, as células do tumor exibem o alvo alterado”.

Apesar das inúmeras conquistas científicas proporcionadas pela tecnologia e o cenário otimista, o pesquisador diz que ainda é muito difícil falar em uma cura para o câncer. “Na medicina, nada é cem por cento”, afirma. “Ainda temos muito o que avançar até poder afirmar isso”, conclui.

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