Estudo aponta relação entre transtornos alimentares e diagnóstico de pacientes com disfunção temporomandibular

Pesquisadoras da FOUSP mostram a importância da presença do cirurgião dentista nas equipes multidisciplinares que atendem pacientes com bulimia e anorexia nervosa

Cerca de 84% dos pacientes diagnosticados com Anorexia Nervosa Purgativa e Bulimia Nervosa sofrem de Disfunções Temporomandibulares (DTM). Imagem: infoescola.com (Reprodução)

Por Regina Santana – regina.depsan@hotmail.com

Pesquisa de mestrado desenvolvida na Faculdade de Odontologia verificou a incidência de Disfunções Temporomandibulares (DTM) em cerca de 84% dos pacientes diagnosticados com Anorexia Nervosa Purgativa e Bulimia Nervosa. Ao todo, foram atendidas 31 pessoas (quase a totalidade do gênero feminino) e os resultados estatísticos demonstraram que quanto maior o tempo em que os pacientes são acometidos por esses transtornos alimentares (TA), maior é o tempo de dor orofacial causada pela DTM.

Durante as avaliações clínicas dessas pacientes, na Clínica de Dor Orofacial, a pesquisadora Rosane Tronchin Gallo observou que pacientes com diagnóstico médico dos dois transtornos alimentares, relataram queixas de dores musculares e articulares, além de apresentarem sinais clínicos de parafunções como bruxismo e apertamento dental. Muitos pacientes tinham o hábito parafuncional de mascar chicletes e má qualidade do sono, o que pode piorar ainda mais as dores.

É comum encontrar problemas de saúde bucal em pacientes com TA, pois o hábito de provocar vômito aumenta a acidez na boca, ocasionando cáries, erosões dentais, prejuízos na função salivar e, em alguns casos, aumento da glândula parótida.

Embora a  literatura científica demonstre a coexistência de DTM e TA, é importante que haja mais estudos para o entendimento dessas desordens atuando em conjunto no paciente. Para que a  pesquisa se realizasse, o recrutamento dos pacientes foi feito principalmente com

parcerias de  dois grandes centros de atendimento e cuidado a pacientes com transtornos alimentares: o Ambulim (Hospital das Clínicas – FM USP) e o Proata (Unifesp), que oferecem atendimento psiquiátrico, psicológico, nutricional entre outros.

“O dentista, em muitos casos, é o primeiro a entrar em contato com este paciente, uma vez que as manifestações  bucais são indícios da presença do transtorno”, explica a doutora. “A dor à mastigação e a limitação de movimentos da mandíbula pode impactar na relação desses pacientes com a alimentação, interferindo na qualidade de vida e, consequentemente, no tratamento”. Dessa forma, os efeitos de uma condição podem agravar a outra.

Desta forma, a importância de uma boa anamnese e diagnóstico por parte dos profissionais, responsáveis pela orientação correta e avaliação de riscos. O contato com estes pacientes é essencial para entender como estas psicopatologias funcionam, conforme afirma a cirurgiã-dentista Gisele Ebling Artes, que está concluindo a tese de doutorado que avalia o ganho na qualidade de vida e diminuição da dor durante o tratamento proposto pela equipe profissional.

Enquanto participavam da reabilitação dos 31 voluntários, as pesquisadoras puderam ver a melhora significativa da maioria deles, “graças a um atendimento humanizado e completo que abrange a forma, função e estética, além da conscientização”. O ganho da autoestima é essencial para a melhora, pois ajuda o paciente a romper com a distorção na forma de ver o próprio corpo.

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