Pesquisa busca desenvolver exploração sustentável no Atlântico Sul

Instituto oceanográfico estuda métodos para manejo e mineração em cadeia montanhosa submersa

Elevação do Atlântico Sul, região situada à 1.300km da costa brasileira. Imagem: Maila Guilhon

No ano de 2015, o Brasil recebeu permissão para explorar a área da Elevação do Rio Grande. Localizada a cerca de 1.300 quilômetros da costa do Estado do Rio Grande do Sul, a região, rica em minérios, conta com uma cadeia montanhosa situada à aproximadamente 5.000 metros de profundidade. Visando um manejo sustentável, pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da USP buscam elaborar um diretrizes para um Planejamento Espacial Marinho, para garantir a conservação do ambiente em meio à uma possível futura extração.

Segundo a pesquisadora Maila Guilhon, a região localiza-se no Atlântico Sul, portanto, e portanto, fora dos limites da jurisdição brasileira. Tal fato obrigou o país a pleitear permissão, concedida pela Autoridade Internacional para Fundos Marinhos (International Seabed Authority – ISA), órgão criado no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar.

Um estudo preliminar realizado pelo Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA), aponta a cadeia submersa como grande detentora de crostas cobaltíferas, o que caracteriza a região como rica em cobalto, níquel e ferro — matéria prima para desenvolvimento de células fotovoltaicas e baterias de smartphones.

Uma das principais vertentes do trabalho, que envolve a pesquisadora Maila, seria tentar compreender qual a melhor forma de viabilizar a mineração sem degradar o ambiente. O plano visa indicar quais são os habitats, formações, atividades antrópicas no local, ocorrências de biodiversidade na região e a maneira como estão distribuídas, bem como discutir futuros cenários de mudanças climáticas.

Existe uma grande preocupação associada a possíveis impactos de uma eventual explotação sobre as comunidades biológicas presentes em montes submarinos, uma vez que é sabido que estas possuem processos de crescimento e maturação muito lentos e, uma vez extraídas ou prejudicadas pelo processo de mineração, não se sabe ao certo quanto tempo tais comunidades levariam para se restabelecer.

Tomando como base de estudo exemplos de áreas no mundo onde já ocorre este tipo de exploração, como na Cordilheira Meso Atlântica Norte (MAR) e na Clarion Cliperton Zone (CCZ) no Pacífico, o objetivo é não comprometer os serviços ecossistêmicos da região e a manutenção das comunidades biológicas durante o período de exploração.

O intuito das atividades de exploração é investigar possibilidades para viabilizar a extração mineral oceânica  para fins econômicos, que leva o nome de explotação. Tal ação, entretanto, depende de licenças ainda não concedidas pela Autoridade Internacional para Fundos Marinhos. No entanto, a atividade de exploração da Elevação do Rio Grande não envolve apenas um seleto grupo — muitos pesquisadores, agências governamentais e universidades estão envolvidos na questão.

A estratégia baseia-se no desenvolvimento de um Plano de Manejo Ambiental, criando diretrizes para indicar quais são os habitats, formações, ocorrências de biodiversidade na região e a maneira como estão distribuídas. Com isso, é possível entender melhor quais seriam os potenciais impactos causados por uma explotação mineral na zona oceânica. A partir do panorama adquirido sobre as consequências das atividades antrópicas, maximiza-se a proteção do local e mantém-se, caso seja viável, atividades de interesse econômico.

“Hoje em dia, com a chegada da tecnologia é que começamos a pensar no que podemos fazer para garantir a conservação do alto mar. O importante é o equilíbrio entre todos os fatores”, conclui Maila.

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