Software pode garantir estatísticas de mortalidade confiáveis e comparáveis

A automatização do processo de codificação das causas de morte também melhoraria as condições de trabalho nas Secretarias de Saúde

Padronização de dados para uma comparação mais efetiva. Foto: Reprodução

As estatísticas de mortalidade são usadas no mundo inteiro e por isso precisam ser baseadas em dados confiáveis. A partir delas se delinearam as políticas públicas de saúde para prevenção de acidentes, combate à violência, campanhas de prevenção de doenças transmissíveis, entre outras. Uma pesquisa recente de doutorado da Faculdade de Saúde Pública comprova que uma maior automatização no processo de coleta desses dados pode garantir confiabilidade e comparabilidade, além de outros benefícios.

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Foto: Reprodução

Todo atestado de óbito, preenchido por um médico, traz as causas da morte de determinado paciente. Cada uma dessas causas possuí um código correspondente da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), que, hoje, é selecionado manualmente por um funcionário da Secretaria de Saúde. Só então, um software seleciona a causa básica de morte, ou seja, o mal que desencadeou a sequência de eventos que levaram ao óbito e que constará nas estatísticas de mortalidade. Um erro na fase de codificação pode comprometer esse dado final, diminuindo a importância de determinado evento e impedindo o desenvolvimento de políticas públicas eficientes.

Pensando nisso uma iniciativa internacional da França, Inglaterra, Alemanha, Suécia e Hungria se propôs a desenvolver um programa capaz de codificar automaticamente as causas de morte, o software Iris. A pesquisadora Renata Martins, depois de criar um dicionário em português para ser vinculado ao programa, avaliou se era possível implementá-lo no Brasil. Com uma correspondência de 81,1% entre a codificação manual e automática, ela concluiu que o programa é eficiente:

“A ideia é você conseguir facilitar e poder comparar dados. Para isso, o atestado de óbito tem que estar bem preenchido e deve haver uma codificação correta. O que a gente viu durante a nossa pesquisa é que as cidades codificam de formas diferentes e, com o Iris, isso não aconteceria. Padronizando os dados, teríamos uma comparação mais efetiva tanto nacional como internacionalmente”, destaca a pesquisadora. “Quanto às políticas públicas, seria possível analisar quais mortes podem ser prevenidas ou o que já não necessita mais de investimento. Servirá, então, para criar políticas públicas eficientes, mas, também, para avaliar melhor os resultados daquelas existentes”.

Além disso, ela garante que o software facilitaria o trabalho dos codificadores, sem, de forma alguma, comprometer seu emprego:

“Este funcionário é extremamente sobrecarregado. O Iris facilitaria o trabalho desse codificador, pois metade do seu trabalho seria automatizado, permitindo que ele fizesse sua parte de forma mais tranquila”, explica Renata. “Tem atestado de óbito que não tem jeito, precisa-se de um humano para codificar. É o caso das causas externas, da morte materna e infantil. São óbitos complicados e relevantes para as estatísticas. O Iris permitiria que os funcionários focassem nessas causas que exigem maior reflexão”.

A migração para o Iris é uma decisão que precisa partir do Ministério da Saúde, mas seu custo seria basicamente o suporte técnico para manutenção e um investimento mínimo em infraestrutura, para que todos os funcionários tivessem acesso a computadores. A orientadora da tese, Cassia Maria Buchalla, garante que o grupo desenvolvedor não tem interesses financeiros:

“Não há fins lucrativos, a ideia deles é divulgar o máximo possível, porque quanto mais países adotarem, mais comparativas as estatísticas se tornam, pois você está usando um mesmo padrão. Esse grupo não está ligado à Organização Mundial de Saúde, mas compartilha seu objetivo de conseguir estatísticas confiáveis, a fim de retratar a realidade da saúde no mundo”, explica Cassia.

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