Projeto da USP integra ensino e saúde pública

Professores inserem seus alunos na realidade do Sistema Único de Saúde (SUS)

Atendimento na UBS São Remo (Créditos: Leon Rodrigues/SECOM)

Um projeto da Universidade de São Paulo procura aumentar o contato de estudantes da área da saúde com os usuários do SUS. Iniciado pelo Governo Federal, o PET (Programa de Educação pelo Trabalho) leva os alunos para conhecerem as Unidades Básicas de Saúde e participar da sua rotina de atendimentos. Após o término do financiamento estatal, alguns professores da USP deram prosseguimento à ideia, que se sustenta por meio de disciplinas e eventos ministrados por eles.

O PET-Saúde teve início em 2009. Por meio de editais, estudantes e docentes poderiam se inscrever para participar do projeto que tem como premissa a educação pelo trabalho. Segundo Yara de Carvalho, professora da Escola de Educação Física e Esporte, a prática traria uma realidade inatingível na sala de aula ou em laboratórios, deixando os alunos menos engessados com relação à rotina no mercado de trabalho: “Os estudantes saem com as equipes de saúde, muitas vezes para visitar a casa dos usuários. Eles vão reconhecer o território, as necessidades, dificuldades e condições de vida dessas pessoas.”

Yara é uma das responsáveis por manter atividades similares à do PET-Saúde, mesmo após o fim do apoio financeiro: “Fomos, junto com os docentes, inventando modos e estratégias de continuar esse trabalho se o projeto terminasse. Então, criamos disciplinas integradoras”. Matérias alocadas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas e na Escola de Enfermagem seguem a proposta de aumentar o contato do ensino com as UBS, e ainda são oferecidas para todos os alunos da Universidade.

Mesmo pós-graduandos têm a oportunidade de se envolver com essa experiência. A criação de um mestrado profissional denominado Formação Interdisciplinar em Saúde permite que os atuantes desse nicho se atualizem e pensem a respeito de suas experiências no mercado de trabalho.

A ruptura entre classes sociais é praticamente inevitável nesse contexto, sabendo que a Universidade de São Paulo é composta majoritariamente de membros de classes sociais abastadas, ao contrário do perfil dos usuários do SUS. Na visão de Yara, até mesmo as famílias dos alunos são afetadas por esse novo contato: “Muitas vezes as famílias deles tem preconceitos com a UBS, com o CAPS. Temos vários relatos de estudantes que não frequentavam as UBS e depois que conheceram, começaram a frequentá-las e levar as suas famílias.”

A identificação com as instituições do sistema público de saúde vai ainda mais longe. A professora afirma que diversos participantes do programa que almejavam construir sua própria clínica ou consultório criaram interesse em trabalhar diretamente com o SUS: “Os estudantes começam a investir nos movimentos pró-saúde, movimentos populares para o acesso à saúde”. O engajamento social seria, portanto, um dos principais benefícios para os aspirantes a profissionais dessa área.

Os docentes não ficariam de fora: Yara relata que repensou totalmente sua maneira de lidar e estruturar suas aulas. O aspecto prático tomou conta de um ambiente dominado pelas apresentações de slides e exposições cansativas, convidando os alunos a serem mais participativos. “Hoje gosto mais das minhas aulas, acho elas mais difíceis, mas mais interessantes para mim e para eles. Vamos por aquilo que é interesse de formação deles, com o que querem trabalhar”.

Para a área de educação física, na qual Yara trabalha, a interseccionalidade com outros campos é importantíssima para construir atividades completas e que fogem da rotina de atendimento em clínica. Com a possibilidade de explorar o lado de fora do consultório, os próprios profissionais passaram a dar maior importância a trabalhar o próprio corpo: “São práticas do profissional de educação física que podem ajudar na qualidade de vida dos cuidadores, para que eles possam cuidar melhor dos usuários”. Os exemplos disso podem ser encontrados facilmente: “Na UBS que trabalhamos hoje é o dentista que tem um grupo de jogos, brincadeiras e ginásticas. Mas tem uma profissional de educação física desse núcleo de apoio que ajuda ele a desenvolver essas atividades.”

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*