USP desenvolve novos protocolos de anestesia que visam o bem-estar dos ratos de laboratório

Refinamento das técnicas elimina complicações recorrentes na experimentação com animais

Imagem: Jilma Aléman Laporte

Há décadas que um mesmo protocolo de anestesia envolvendo dois fármacos (xilezina e ketamina) tem sido largamente empregado em experimentos com ratos de laboratório. Só que ele não tem cumprido adequadamente duas das principais funções de uma anestesia: boa tolerância cirúrgica (perda completa dos reflexos que indicam que o animal atingiu um plano profundo da anestesia) e bom poder analgésico. Preocupada tanto com o conforto dos animais, quanto com seus impactos sobre os resultados laboratoriais, Jilma Aléman Laporte desenvolveu, em mestrado orientado por Claudia Madalena Cabrera Mori para a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP), dois novos protocolos que resolvem complicações comuns na experimentação.

Sua pesquisa analisou a ação de outros quatro fármacos quando adicionados à xilezina-ketamina: acepromazina, tramadol, metadona e morfina. Desses quatro, os últimos três são opiáceos e foram selecionados por seu fator analgésico. Laporte descobriu que o protocolo com acepromazina é o de melhor resultado para os machos, enquanto a mistura com metadona funciona melhor com as fêmeas. A análise de ambos os sexos é outro diferencial de seu trabalho: “Na experimentação, tradicionalmente, se trabalha com machos. A maioria dos artigos científicos falam somente de trabalhar com machos, mas agora se está usando muito fêmeas e elas têm muitas diferenças na fisiologia”, explica a pesquisadora.

Para avaliar a analgesia, foi injetada formalina em uma das patas dos ratos anestesiados, causando uma inflamação. Quando os animais estavam voltando à consciência, Laporte usou um equipamento especial para registrar os sons que emitiam: “Os ratos  fazem muitos tipos de vocalização, audíveis e ultrassônicas. Entre essas vocalizações, existe uma faixa que é feita pelo rato quando o animal se sente em situações aversivas. Uma dessas situações aversivas é a dor”. Quando submetidos a protocolos com opiáceos, notou-se uma redução significativa na quantidade de vocalizações.

No desenvolver do projeto, Laporte percebeu, ainda, que a anestesia causava problemas respiratórios nos animais: os protocolos baixavam a oxigenação do sangue dos ratos a níveis muito abaixo dos adequados. A oxigenação do sangue é essencial, uma vez que os tecidos do animal podem ser danificados se não receberem oxigênio, potencialmente afetando os resultados de determinados experimentos. A pesquisa ressalta, então, a importância do uso de uma máscara de oxigênio para evitar a hipoxemia.

Nativa da Costa Rica e de volta à sua terra natal, Laporte espera ser uma influência positiva na área de pesquisas sobre anestesia animal, que apenas agora começa a se desenvolver em seu país. Elaborando seu doutorado, ela pretende seguir a mesma linha de pesquisa, expandindo seu foco para outros animais de laboratório, como coelhos e porcos. Para ela, o mais importante é ter respeito com os animais com que se trabalha: “O animal está dando a sua vida por uma investigação que pode beneficiar outros animais, mas, também, pode beneficiar a saúde humana. Temos que sempre dar o respeito que eles merecem pela ajuda que nos estão dando”.

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