Do céu ao mar: As vantagens do estudo oceanográfico por satélites

Uma constelação de satélites oceanográficos estão posicionados em órbita polar, a cerca de 800 quilômetros da superfície. Foto: Reprodução

A oceanografia física é uma ciência considerada extremamente nova, com os primeiros estudos sobre movimentação das águas iniciados na década de 1920. O homem está em contato com os oceanos desde a pré-história, no entanto, há menos de um século começou a se pesquisar, quantitativamente, seus movimentos — algo responsável por tornar tais modelos e teorias extremamente recentes.

Em um primeiro momento, as medidas relativas aos oceanos eram feitas por meio de navios e equipamentos que, ao sabor das correntes, coletavam dados sobre temperatura e altura oceânica. Tais métodos continuam sendo utilizados nos dias de hoje. Entretanto, no fim da década de 1970, a implementação de satélites para cálculos físicos dos oceanos revolucionou a maneira como se entendiam as águas salgadas do planeta Terra.

Uma constelação de satélites oceanográficos estão posicionados em órbita polar, a cerca de 800 quilômetros da superfície. Os equipamentos mantêm seu plano de órbita sempre apontando em direção ao Sol, fazendo com que passem no mesmo horário do dia em cada ponto do planeta. Desta maneira, não se misturam mudanças diárias de temperatura com variações anuais ou de longo prazo, concluindo uma cobertura global por volta de 72 horas.

Grande parte dos dados coletados são construídos a partir de satélites com tecnologia infravermelha. No entanto, em locais muito nebulosos a radiação não consegue incidir e calcular com precisão os dados oceânicos. Nestes ambientes, complementa-se a pesquisa utilizando satélites emissores de microondas — com resolução um pouco menor, são responsáveis por dados de áreas essenciais para complementar a cobertura terrestre satelital.

Utilizando satélites

“Nos anos 1960, ainda trabalhávamos com a ideia de um oceano muito laminar. Por exemplo, os livros didáticos mostravam correntes oceânicas com linhas e curvas bastante suaves, em alguns casos, até acompanhando os continentes, sem muita variabilidade. A partir da popularização das primeiras imagens de satélite, percebe-se que o oceano é algo muito mais mutável do que se imaginava antes.”, comenta o professor Paulo Polito, responsável pelo Laboratório de Oceanografia por Satélites do Instituto Oceanográfico (IO) da USP.

Basicamente, os dados coletados a partir de infravermelho são conseguidos também por navios e outros métodos que não os satélites mas, a preferência pelo trabalho astronômico possui, antes de tudo, relação com questões financeiras. Exemplificando, o custo diário de um barco de pesquisa pequeno gira em torno de R$10 mil, aumentando para cerca de R$30mil a R$50 mil quando utilizadas embarcações de médio-grande porte.

Outro aspecto. Segundo o professor, um navio leva cerca de dois meses para fazer uma coleta de dados em, essencialmente, uma linha que conecta o Brasil até o continente africano — nesta rota, coletam-se informações em pontos distanciados a cada 50 quilômetros. Em comparação, um único satélite é capaz de coletar, em 3 dias, medidas de toda superfície oceânica da Terra na resolução de 1 quilômetro.

“A quantidade de dados coletados via satélites é muito grande. Entendo que são informações obtidas apenas na superfície oceânica mas, ainda assim, com a resolução de 1 quilômetro, a quantidade de informação produzida diariamente é enorme, muito maior do que se produzia com os navios.”, explica Polito. “Temos medidas de alta resolução em aspectos como cor do oceânica, clorofila, ventos, altura, e rugosidade da superfície marítima em resoluções na ordem de dezena de metro, isso facilita na construção de uma estatística robusta, dando base para certeza diante daquilo que está se afirmando.”

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