Pesquisa traz avanços para tratamento de doença lisossomal rara

Com tratamento caro, doença de Gaucher tem poucos medicamentos disponíveis

(Fonte: Pexels)

A dissertação de mestrado de Bruna Fernandes, Produção e purificação da glicocerebrosidase humana recombinante expressa por célula CHO em meio livre de soro fetal bovino, aventa possibilidades para remédios contra a doença de Gaucher, doença que tem cerca de 700 pacientes diagnosticados no Brasil. De herança autossômica recessiva, ela é ocasionada por mutações na enzima glicocerebrosidase. “Ela tem a função de degradar um componente glicolipídico, o glicocerebrosídeo”, explica a pesquisadora. “Senão, há um acúmulo muito grande dentro dos macrófagos, acarretando na patologia”.

Há três tipos de doença de Gaucher, com 95% dos casos sendo do primeiro tipo, que tem como sintomas mais comuns o aumento no tamanho do baço e do fígado e alterações hematológicas e esqueléticas. “Hoje, há apenas tratamento para o tipo 1, com reposição enzimática”, conta Fernandes. Esse medicamento, comercializado por poucas indústrias, não tem um padrão referência, ou seja, uma molécula altamente pura e caracterizada que serve como uma base para que qualquer um possa produzir o remédio. “Isso impossibilita que outras empresas produzam e o tratamento se popularize”. O tipo 2 da patologia é letal, enquanto o terceiro atinge o sistema neurológico.

Para disponibilizar o tratamento gratuitamente para os portadores de Gaucher no país através do SUS (Sistema Único de Saúde), o Ministério da Saúde gasta cerca de 300 milhões de reais anuais. “É de acesso muito difícil até para pesquisas, o que dificulta o avanço”, diz a pesquisadora. “Teoricamente o SUS fornece medicamentos gratuitamente para pacientes que têm sua qualidade de vida comprometida por conta de alguma patologia. A situação é ainda pior em outros países.”

Orientada por Marco Antonio Stephano e co-orientada por Michele Vitolo, a dissertação teve como principal objetivo purificar a molécula de glicocerebrosidase já obtida em pesquisas anteriores. “É um processo muito caro, mas conseguimos obter a purificação parcial”, conta a pesquisadora. A enzima foi obtida em células de ovário de hamster chinês, padrão para as ciências biofarmacêuticas. “Entre outros motivos, elas foram usadas pois possuem aparato de modificação pós traducional, ou seja, após a síntese, muito semelhante ao dos humano”, aponta Fernandes.

Além disso, o projeto também mostrou a possibilidade do cultivo em meio de cultura com suplemento vegetal. “É livre de contaminantes de origem animal que pudessem afetar a saúde humana e conseguimos manter a produção”, diz. O soro bovino, tradicionalmente usado nesses casos por sua grande nutritividade, não é mais recomendado por agências reguladoras devido registros que relacionam seu uso a doença da vaca louca.

A pesquisa ainda contou com a colaboração de (do Dr.) Paulo Lee Ho, do Instituto Butantã, que cedeu cordialmente a célula, e do Centro de Biotecnologia do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), que auxiliou no processo de purificação.

 

1 Comentário

  1. Gostaria de mais informação sobre esse medicamento sou paciente de Gaucher e presidente de associação de Gaucher.

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