Projeto de mestrado na Letras estuda o tema da amizade em O Senhor dos Anéis

Pesquisa na área de Estudos Comparados em Literatura faz um paralelo entre a obra de J.R.R Tolkien e o conceito de amizade proposto por Aristóteles

Cena do filme O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. Fonte: New Line Productions, Inc.

O interesse pela amizade na literatura foi a porta de partida para a pesquisa de mestrado Em boa companhia – a amizade em O Senhor dos Anéis, de Cristina Casagrande de Figueiredo Semmelmann, na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Ao caminhar pelas obras de literatura juvenil e infantil, Cristina resolveu aprofundar sua pesquisa na obra O Senhor dos Anéis. Segundo a pesquisadora, a história de J.R.R. Tolkien se casa perfeitamente com o conceito mais completo e adequado de amizade proposto por Aristóteles em Ética a Nicômaco.

Apesar de ser lançado em três volumes, O Senhor dos Anéis é uma obra só. Porém, publicado no período pós-guerra, com o alto preço do papel, dividir a obra foi uma escolha editorial. A Sociedade do Anel e As Duas Torres foram publicados em 1954 e o terceiro, O Retorno do Rei, no ano seguinte. E segundo Cristina, o tema da amizade apresenta um crescente nas três obras, mostrando cada vez mais a força e a importância do apoio dos personagens uns aos outros, até a trama chegar em sua batalha final. “Ambas as formas de amizades são extremamente importantes para a vitória da Guerra do Anel, mas a amizade pessoal, baseada na misericórdia confere seu grau máximo de perfeição – dentro das debilidades humanas, claro.”, afirma a pesquisadora. “É bom lembrar que O Retorno do Rei termina novamente em festa, a luz volta, os hobbits conseguem a destruição do Anel,o rei Elessar [Aragorn] é coroado, casa-se com Arwen. Haverá ainda outras lutas no Condado, mas a luz sempre volta – ainda que com as marcas de dor”. Cristina continua: “Tolkien trazia uma mensagem de esperança e acreditava que os verdadeiros contos de fada contêm finais felizes, apesar das consequências das guerras. Tudo isso é conquistado, em grande parte, pela força da amizade.”

Semmelmann também comparou como a temática aparece de formas iguais e diferentes na adaptação da obra para o cinema, dirigida por Peter Jackson. De acordo com a pesquisadora, o aspecto visual dos longas contribui para enaltecer algumas cenas que pedem mais emoção. “Uma cena que merece destaque é quando Frodo dá a mão a Sam no abismo das fendas da Montanha da Perdição – e só assim o Anel se destrói. No livro, isso não acontece, o Anel se destrói assim que cai no fogo da Montanha, junto com Gollum” explica Cristina. “A importância da amizade é mostrada ao longo do percurso da narrativa literária toda, enquanto o cinema pede esse apelo visual.”

Já a ênfase que Tolkien dá para os hobbits têm ligação direta em como a amizade entre os personagens regem a história, já que a intenção, segundo a pesquisadora explica que Tolkien escreveu em cartas, seria de exaltar os humildes, diferente de outros livros do escritor: “É por isso que a história de amor de Arwen e Aragorn não recebe tanto destaque como acontece com Beren e Lúthien, em O Silmarillion [e que agora recebeu um lançamento próprio]. Tolkien queria dar mais ênfase aos hobbits, e com isso, à importância da amizade – e ninguém melhor do que os hobbits para representá-la.”

Confira a entrevista em vídeo com a pesquisadora para a AUNTV:

Imagens e edição: Helena Mega e Larissa Lopes/Supervisão: Luiz Fernando Santoro

1 Comentário

Deixe uma resposta para Fábio Costa Cancelar resposta

Seu e-mail não será divulgado.


*