Último encontro do ciclo de palestras dos 50 anos da AUN discute jornalismo científico e o ingresso no mercado de trabalho

Ex-alunos da Agência Universitária de Notícias conversaram com atuais graduandos sobre experiências e aprendizados na ECA e como tais fatores influenciaram em seus empregos e estágios

Ex-alunos destacam importância do jornalismo científico para divulgar mudanças que trarão impactos reais no cotidiano. Imagem: revistagalileu.globo.com

Por Álvaro Logullo, Diego Smirne, Diogo Magri, Gabriel de Campos e Nelson Niero

A última palestra[1] do ciclo para alunos do quarto semestre de jornalismo do período noturno contou com a participação de ex-alunos. Os convidados foram Job Casquel, analista de mercado e sócio da B.bright e que ainda está concluindo seu TCC pela ECA e a jornalista Giovanna Rossin, analista de comunicação júnior na Loures Consultoria, formada no ano de 2015.

A série de encontros, organizada pelo professor André Chaves, é um projeto integrante da disciplina Laboratório de Jornalismo – Agência de Notícias, conhecida por operar a produção da Agência Universitária de Notícias. Ao longo de suas seis palestras, diversos profissionais importantes que já passaram pelo Departamento e hoje atuam nas mais diferentes áreas tiveram a oportunidade de realizar um debate com os alunos de jornalismo acerca dos diferentes aspectos e rumos da profissão. Além disso, todas as edições do ciclo foram gravadas e serão utilizadas na produção de uma publicação em homenagem aos 50 anos da AUN e da ECA.

No encontro que encerrou o ciclo de palestras, Giovanna e Job conversaram com os alunos sobre suas experiências ao longo do curso de jornalismo, com foco especial na passagem pela Agência Universitária de Notícias e no modo como encararam e vêem o jornalismo científico, tema principal da Agência, além de contar um pouco sobre onde a graduação os levou e quais as suas situações dentro do mercado de trabalho.

Giovanna Rossin, analista de comunicação júnior na Loures Consultoria. Foto: Arquivo pessoal

Giovanna foi a primeira a falar. Formada pela ECA em 2015, começou explicando como foi sua experiência com a AUN na cobertura do Instituto de Química (IQ) e as primeiras dificuldades que enfrentou: “Não conhecia ninguém lá, não sabia como funcionava e cheguei meio assustada, porque o instituto tem muitos laboratórios, então, era um desafio para se aproximar dos alunos e professores.” Contudo, Giovanna reiterou a importância da disciplina para sua formação pessoal e profissional:” A AUN foi o primeiro momento que me vi sozinha, e foi incrível, não só por causa do conteúdo que foi especial, descobri muitas coisas, tive a oportunidade de ver a coisa acontecendo, valeu muito a dedicação por essa busca”. O destaque ficou para duas matérias realizadas com um mesmo pesquisador, a primeira sobre um cogumelo bioluminescente, e a segunda sobre um fungo, que seria anunciado mundialmente como uma nova espécie, pesquisa reconhecida internacionalmente pelo Top Ten New Species, ranking mundial de taxonomia para fungos. O jornalismo científico foi determinante para a escolha do tema do TCC de Giovanna, a qual, com orientação do professor André, fez um livro-reportagem sobre o uso de drones, principalmente na agricultura.

Job Casquel, analista de mercado e sócio da B.bright. Foto: Arquivo pessoal

Job, por outro lado, quis dar atenção especial ao tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso. Sua tese é relacionada com a forma com que a proporção de concordâncias e discordâncias sobre um mesmo assunto interfere na escolha de fontes para uma matéria jornalística sobre ele. “O que fiz foi justamente tentar explicar de onde vem a nossa ânsia de dar voz para todo mundo. Por que é importante ouvir os dois lados? E quando a gente não precisa ouvir os dois lados? Falando do jornalismo científico muitas vezes nós não precisamos ouvir mais de uma fonte. Eu duvido que haja algum químico discordando do que o pessoal do Instituto de Química achou. A gente não precisa gerar controvérsia a respeito de fungo bioluminescente”, explica Job, relacionando seu TCC com o assunto da palestra.

Ele também traz à tona a importância do jornalismo científico para divulgar mudanças que trarão impactos reais no nosso cotidiano. “A informação está circulando de um jeito muito rápido e as consequências disso são esse ritmo que a gente não consegue lidar ainda. Isso pode ter implicações muito grandes, para a tomada de decisões, para a legislação, para acordos ambientais, para a economia. Acho que, por isso, é cada vez mais importante para o jornalista entender a ciência.”

Apesar dos discursos, atualmente nenhum dos dois trabalha com o jornalismo tradicional. Giovanna chegou a passar por experiências em redações e revistas de ciência, como a Abril e a Revista Info, mas hoje trabalha com estratégias de comunicação para empresas em uma consultoria. “[O que me trouxe aqui] foi um mix de alguns meses tentando entender para onde eu queria ir. Achei uma boa oportunidade, em vez de seguir tentando com o jornalismo de redação, até porque ele vem mudando muito”, disse. Já Casquel, apesar de ainda não ter concluído o curso, saiu do jornalismo de redação para a pesquisa de mercado. “Trabalhei na [Editora] Abril, trabalhei com assessoria de imprensa, e me desiludi. Continuo muito interessado, porque é um assunto fascinante, mas, do ponto de vista profissional, parou de me interessar.”

Os palestrantes reiteraram que, embora hoje não trabalhem como jornalistas, as experiências que tiveram no curso de jornalismo e na própria USP foram decisivas na definição de suas carreiras atuais. Job destaca, por exemplo, o intercâmbio que fez durante o curso, por meio do qual diz ter crescido nos âmbitos profissional, acadêmico e pessoal, além de ter sido o momento em que percebeu que não queria ser jornalista. Giovanna, por sua vez, também encorajou os alunos que assistiam à palestra a buscarem fazer um intercâmbio, que chamou de “experiência incrível”.

Ambos concordam também ao dizer que, se pudessem voltar atrás, teriam lido mais quando estavam na faculdade. “No semestre de vocês, eu era o imbecil que sentava lá atrás e falava ‘não li nada esse semestre e passei em tudo’. Cara, o dia em que decidi ler, percebi o que estava perdendo”, confessa Job. Ele defende os professores da USP por serem, segundo ele, pessoas extremamente inteligentes, que leram de tudo e prepararam seu material de aula sabendo qual porção dos textos é necessária para preparar os estudantes. “Aproveitem tudo que a USP tem para dar, que é muito rico”, conclui.

Giovanna diz que iria ainda além dos textos passados pelos professores, e que gostaria de ler de tudo, de livros de ficção a biografias e livros acadêmicos. Isso se reflete em outro conselho dado por ela: “Abram suas possibilidades de trabalho”. Segundo ela, ser multimidiático é cada vez mais importante para os profissionais da comunicação, e hoje, na AUN, por exemplo, os estudantes têm a possibilidade de trabalhar isso inserindo vídeos e imagens em suas matérias, coisas que ela não teve a oportunidade de fazer quando cursou a matéria.

Esse tipo de evolução faz parte do que Job considerou uma mudança positiva na graduação em jornalismo na USP, iniciada quando ele e Giovanna estavam na AUN, que se deu por meio da entrada de novos professores, como o próprio André Chaves. Segundo ele, eles poderiam trazer novas ideias e dar uma nova cara ao curso. Ainda assim, Job considera que a defasagem da graduação em relação ao que o mercado de trabalho requer dos profissionais não deve preocupar tanto os estudantes. “Não acho que seja muito o papel da faculdade te ensinar ser o melhor profissional possível, mas vocês vão ser pessoas inteligentíssimas que podem ser os melhores profissionais independente de alguém aqui ter virado e falado ‘então, release é isso.’ O que falta aqui de prática profissional em um mês vocês estão fazendo tão bem quanto quem tá lá [no mercado] há dez anos”, afirma.

O professor André Chaves falou sobre algumas das matérias introduzidas na nova grade curricular do curso de Jornalismo, que tratarão da função de assessoria de imprensa e da gestão da própria carreira do profissional da comunicação, com a intenção de atualizar a graduação e ampliar os horizontes dos futuros profissionais, na linha do que defendem os palestrantes.

Assim, reconhecendo que o jornalismo está num momento de transição, Giovanna e Job encerraram o ciclo de palestras com uma visão positiva e otimista. “A gente ainda não sabe como vai ser, mas as mudanças são muito boas. Cada vez menos um jornalista é de uma mídia, de um assunto. A ideia é que fique mais multidisciplinar”, avalia Giovanna. Job acredita que é necessário reaprender a fazer dinheiro através da criação de conteúdo, coisa que, segundo ele, é a especialidade dos profissionais da comunicação. E provoca: “Fica o desafio para vocês”.

[1] Palestras proferidas no dia 8 de novembro de 2016. Todas as palestras deste ciclo comemorativo foram sediadas no auditório Freitas Nobre, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE/ECA/USP).

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