Pesquisa descobre novos fósseis do Pré-Cambriano

Icnofósseis indicam que animais seriam mais antigos do que se pensava

Rocha da amostra de Corumbá (MS). As linhas na superfície são os registros dos icnofósseis. Imagem: Juliana Lima

Um projeto que conta com pesquisadores brasileiros e ingleses é o primeiro a verificar a ocorrência de icnofósseis em rochas do período Pré-Cambriano da Terra, encontradas na região de Corumbá (MS). Tais fósseis seriam de animais com complexidade de vida que só é conhecida no período posterior, o Cambriano.

O artigo faz parte de um projeto temático da Fapesp, O Sistema Terra e a evolução da vida durante o Neoproterozoico, e é assinado pela professora Juliana de Moraes Leme, do Instituto de Geociências da USP, pelo professor Martin Brasier, da Universidade de Oxford, e outros. O contato se deu quando Martin veio para o Brasil em 2012 estudar essas rochas com um aluno, Luke Parry. Com análises de microtomografia feitas na Inglaterra, os pesquisadores descobriram icnotramas, que são uma rede de tubos fósseis existentes nas rochas coletadas da formação Guaicurus, a mais recente. Esses traços fósseis são estruturas pequenas, chamadas meiofauna, que poderiam ter sido feitos por animais com movimento de contração muscular.

Após o falecimento do professor Martin em 2014, outro aluno seu, que também assina o artigo, Alex Liu, encontrou a mesma ocorrência de fóssil também em rochas da formação Tamengo. Com a datação realizada por meio de cinzas vulcânicas do local, os pesquisadores conseguiram comprovar que o material era de fato do período Pré-Cambriano: a datação deu entre 542 milhões de anos e o final desse período seria 541 milhões de anos.

Reconstrução 3D da rocha, mostrando os tubos fósseis em diferentes cores. Fonte: “Ichnological evidence for meiofaunal bilaterians from the terminal Ediacaran and earliest Cambrian of Brazil”. Nature Ecology & Evolution.

O estudo se manteve, então, em verificar que tipo de organismo teria dado origem aos fósseis. Uma análise com lâmina petrográfica, ou seja, análise microscópica de uma seção fina da rocha, pôde mostrar o preenchimento dos tubos com o mineral pirita, se diferenciando dos minerais encontrados externamente aos tubos fósseis. “A gente vê que eles são vermelhos. Essa cor avermelhada é por conta da pirita, um óxido de ferro que vai se oxidando e ficando avermelhada”. Esse fato significaria a existência de algo orgânico com a formação de um muco. Com a tomografia, percebeu-se outra novidade: as tubulações cruzam o sedimento, que na época ainda não era habitado, ou seja, esses organismos já possuíam a capacidade de cruzar o sedimento e portanto, já deveria haver uma oxigenação no ambiente.

Os animais bilaterais mais primitivos possuem locomoção ciliar e não poderiam deixar esse tipo de documentação fóssil. Analisando os animais já conhecidos, o grupo chegou em um tipo de verme dos nematóides, cujo registro mais antigo é do Cambriano, mas que possuem as características encontradas no material do Pré-Cambriano: o tamanho é diminuto, vivem em substratos em ambientes marinhos e possuem locomoção por contração muscular.

A pesquisa se estenderá ainda para realizar análises químicas que verificarão a oxigenação no fundo do oceano em níveis que os icnofósseis se encontram e também em níveis em que não se encontram. “A gente vai tentar fazer essa ligação entre oxigenação do fundo do oceano com o aparecimento desses icnofósseis, porque eles indicam uma condição com um pouco mais de oxigênio e o que se tem de ideia dessa época é que o substrato não tinha oxigênio”.

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