Inovações em testes de sequenciamento genético permitem diagnosticar casos atípicos de síndrome de Angelman

Referência nas pesquisas sobre o distúrbio, o Instituto Genoma da USP busca respostas para os pacientes que não apresentam todos os sintomas

Síndrome de Angelman atinge em média um em cada 20 mil nascimentos. Imagem: saudedicas.com.br

A Síndrome de Angelman é uma de muitas síndromes decorrentes de alterações cromossômicas. Menos conhecida do que Down e Klinefelter, por exemplo, ela atinge aproximadamente um em cada 20 mil nascimentos. O Instituto Genoma da Universidade de São Paulo é referência na pesquisa no país desde a década de noventa, período no qual a professora Célia Priszkulnik Koiffmann iniciou os estudos sobre o assunto.

A pesquisadora Mônica Castro Varela se juntou à equipe de estudos durante seu mestrado, e hoje realiza pesquisas em nível de pós doutorado ao lado de Koiffmann. Ao longo dos últimos 20 anos, o foco das investigações foi do diagnóstico de Angelman à análise dos pacientes que, apesar de apresentarem sintomas chave, não assinalaram todos os requisitos para serem categorizados como portadores da síndrome. “Tanto aqui quanto fora do país, o diagnóstico de síndrome de Angelman é fechado em 80% dos casos. Os outros 20% têm características, mas testes genéticos são geralmente incapazes de detectar o que eles realmente têm”, relata Mônica.

As principais consequências da síndrome são o atraso no desenvolvimento motor e uma deficiência intelectual que tem forte impacto na comunicação: os portadores de Angelman geralmente não falam, e quando o fazem, não são capazes de formar frases com sentido. A síndrome também causa convulsões de difícil controle, e os afetados por ela possuem um semblante alegre, respondendo a situações de mínimo estímulo com empolgação e, frequentemente, crises de riso.

Os esforços de Varela e Koiffmann foram responsáveis por diagnosticar cerca de 200 pacientes de diversos lugares do Brasil. Mônica estima que 500 pessoas já passaram pela análise, e os pacientes costumam chegar ao laboratório por meio do diálogo com outras famílias nas redes sociais. O diagnóstico final se dá por meio do sequenciamento genético dos pacientes, procedimento que foi amplamente auxiliado pelo desenvolvimento tecnológico recente: atualmente, o Instituto utiliza o chamado Painel NGS, tecnologia de sequenciamento de última geração que permite um mapeamento mais amplo e preciso. A síndrome de Angelman está associada ao cromossomo 15, podendo ser decorrente da perda desse material genético (deleção) ou de um processo denominado dissomia parental, no qual os dois cromossomos são herdados do pai.

Depois do diagnóstico, o procedimento é focado em conscientizar os pais. “Realizamos o aconselhamento genético com eles, os informando sobre a probabilidade de terem uma outra criança afetada. Quando detectamos alterações em outros genes, também fazemos o sequenciamento genético dos pais, uma vez que é possível que a mãe tenha um gene portador inativo”, explica. Nesse caso, o risco não é só para futuros filhos do casal, mas para a mãe, que pode vir a apresentar a doença caso ocorra alguma alteração nas células que contam com o gene afetado.

Com a mudança do foco da pesquisa, atualmente dedicada à busca de um diagnóstico para os pacientes que não se encaixam completamente na Síndrome de Angelman, Mônica separou um grupo de 50 pessoas para ser estudado. Até agora, 12 deles foram diagnosticados com síndrome de Rett, e um com síndrome de Pitt-Hopkins. Os sintomas das três síndromes são muito parecidos, tendo como ponto central as alterações no desenvolvimento físico e intelectual, e sua principal diferença está nos genes que devem ser afetados para que elas se manifestem.


Os outros membros do grupo continuam sob estudo. Varela espera obter resultados mais precisos com um novo teste que está em processo de padronização, e será capaz de mapear 6.500 genes de uma só vez. Assim, será possível descobrir quais genes estão associados a quadros semelhantes, refinando o conhecimento sobre o funcionamento de distúrbios neurológicos-genéticos, além de oferecer um diagnóstico — possivelmente inédito — ao restante dos pacientes.

 

1 Comentário

  1. OLá!
    Meu filho tem 7 anos e foi diagnosticado agora com Angelman. É acompanhado desde que nasceu pelo departamento de genética médica da Unicamp. Porém o exame que detectou S.A foi realizado na clinica do dr. Walter Pinto em Campinas, região que moro.
    Rafael, meu filho, também tem microftalmia, fato que talvez tenha confundido a equipe de genética em relação a ele ter Angelman.
    As crises convulsivas apresentaram na forma de epilepsia atonica em julho de 2017, desde então foi medicado com Depakene e Rivotril, com boa resposta no controle das crises.
    Gostaria de saber se o gene deletado é somente um: UBE3A.
    Pois no exame do meu filho, se entendi correto aparece outro gene, denominado SNRPN.
    Obrigada!

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