Falha geológica no Pantanal gera diferenças na vegetação

Aspecto geológico causa variação no relevo e influencia nas características da vegetação local

Pantanal apresenta grande biodiversidade vegetal. Imagem: Reprodução (Prefeitura de Bonito)

Uma pesquisa realizada no Instituto de Geociências da USP (IGc) é a primeira a relacionar a geologia com diferenças de espécies e de comportamento na vegetação do Pantanal. Uma falha geológica gera uma pequena diferença de relevo, quase imperceptível, e isso afeta a vegetação local.

A ideia partiu de um reconhecimento de um contraste nítido na vegetação do Pantanal a noroeste e a sudeste da feição analisada. Essa diferença entre espécies e de comportamento da vegetação entre dois lados da feição implica, consequentemente, em mudanças ambientais até mesmo na fauna. Segundo Eduardo Francisco Ribeiro, responsável pela tese, os objetivos eram “verificar e observar essa falha geológica e mostrar como que ela interage com a diversidade ambiental do Pantanal”.

Ele estudou, por imagens de satélite, o comportamento da vegetação, em especial o verdor das plantas (variações fenológicas). O primeiro passo foi observar como essa variação é mostrada nos mapas de vegetação, sendo que os mapas da WWF de 2009, Evans et al de 2014 e Pott et al de 2015 mostram nitidamente a variação de vegetação que ocorre na região. Ela também aparece em um Mapa de Vegetação Sempre Verde da América do Sul (Xiao et al 2006) como um dos marcadores mais ao sul desse tipo de vegetação, sendo que ela preenche apenas uma parte do Pantanal.

Utilizando sete métricas fenológicas, calculadas com base em diversos produtos de imagens de satélite, ele analisou então o comportamento da vegetação ao longo do tempo. Um exemplo dessas análises é a amplitude de variação de vegetação em ambas as áreas: a noroeste existe uma amplitude de verdor mais baixa, ou seja, a vegetação possui pouca variação de verdor de folhas durante as estações, e a sudeste da feição, existe uma amplitude de verdor bem maior.

Perfil sazonal de verdor indica as diferenças de comportamento entre as vegetações do Pantanal. Imagem: Eduardo Francisco Ribeiro

A partir das imagens de satélite de algumas décadas, verificou-se que a ação antrópica na região não é significante o suficiente para explicar a mudança na vegetação da região. Além disso, os dados fenológicos da vegetação foram comparados com os dados de pluviosidade da região, para comprovar que também não existem mudanças significativas de níveis de chuva em ambas as áreas. Foram feitas também análises de campo para exemplificar as diferenças entre as espécies presentes na região e como elas se comportam.

Pode-se, então, descartar algumas razões, como ação humana, e relacionar essas variações de comportamento da vegetação com a geologia. O Pantanal, que é uma bacia sedimentar geologicamente recente, está sob efeito de estruturas tectônicas presentes ali e, por isso, é uma das regiões mais sismicamente ativas do Brasil – atualmente acontecem terremotos fracos porém significativos para a região. Entretanto, é difícil localizar com precisão a origem desses terremotos, pois existem poucas estações sismográficas no Pantanal e cercanias.

Por meio de dados geofísicos, a pesquisa consegue afirmar com segurança que a geologia da região, por meio da falha, gera ambientes distintos que se manifestam no comportamento da vegetação.

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