Agricultura urbana fomenta alimentação de qualidade

Ativismo, reconexão com a natureza e aspectos econômicos também são fatores dessa prática

Hortelões na Horta das Corujas / Janeiro de 2015. Crédito: Gustavo Nagib

A ação conjunta e uma produção aliada à agroecologia correspondem a alguns dos ganhos evidentes da agricultura urbana. Iniciativas comunitárias e medidas municipais comprovam a importância e a atualidade do assunto. Uma das mudanças atingem, até mesmo, a alimentação de crianças nas escolas.

O papel que a agricultura urbana desempenha é amplo. Sabe-se que essa atividade se relaciona com uma série de práticas e temáticas. Ativismo, direito à cidade, relação interpessoal, ligação do homem com a natureza e fatores econômicos pertencem ao leque dessas opções. De um modo sucinto, ela consiste na produção de alimentos na cidade.

Segundo Gustavo Nagib, geógrafo e membro do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana (GEAU), do Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), existem duas tipologias mais evidentes. A primeira se preocupa com a geração de renda e a produção de alimentos (para fins de abastecimento). A segunda foca na expressão ativista, isto é, de repensar os espaços públicos da cidade e o contato entre a vizinhança.

Muito da propagação de práticas e definições da agricultura urbana se deve às ações de iniciativas, coletivos e redes, das mais distintas vertentes. É fundamental destacar a importância da internet nesse processo, seja na formação dos agrupamentos ou na proliferação dos informes.

Gestão Pública

Algumas medidas impactaram de forma positiva a agricultura urbana na capital paulista. Dentre as ações, destacam-se: o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, de 31 de julho de 2014, e a Lei 16.140/2015, que dispõe, conforme o documento, “sobre a obrigatoriedade de inclusão de alimentos orgânicos ou de base agroecológica na alimentação escolar no âmbito do Sistema Municipal de Ensino de São Paulo e dá outras providências”.

Para o geógrafo, a recriação das zonas rurais no Plano Diretor possibilitou que os produtores locais, no intuito de melhorarem a produção e a produtividade, pudessem ter acesso às linhas de fomento do governo federal. Ademais, acarretou numa migração considerável para a produção agroecológica. “Isso é muito bacana, porque conseguimos ter um novo uso da água, do solo e, claro, de uma maneira infinitamente mais sustentável”, disse.

Em relação à Lei da Merenda Orgânica, devido, sobretudo, ao favorecimento pelas aquisições de produções regionais, Gustavo enxerga um ganho mútuo. “Ela beneficia tanto as crianças, que terão uma alimentação de qualidade (sem agrotóxico), como também os produtores, que vão se sentir, de certa forma, incentivados à produção orgânica, agroecológica.”

Horta das Corujas / Maio de 2015. Crédito: Gustavo Nagib

Hortas urbanas

As hortas comunitárias funcionam como portas de entrada para quem pretende conhecer a agricultura urbana e ampliar a relação com a natureza. Por intermédio de mutirões, dedicação aos espaços da cidade e convivência, a teoria é posta em prática.

“Uma horta numa praça pública nos ensina muitas coisas, inclusive o bom senso. Saber, por exemplo, que não vou colher demais aquilo que os outros cultivaram. O ser humano tem bom senso e podemos praticá-lo numa iniciativa como essa”, explicou Gustavo.

Além do que fora mencionado e da possibilidade de reconexão com a natureza, um fato peculiar também merece destaque para o membro do GEAU. “A horta é uma ferramenta, dentre outras que existem, para nos tirar dessa lógica completamente insana do mundo industrial.”

Vale destacar a atuação da rede Hortelões Urbanos, criada em 2011. O grupo, existente no Facebook, surgiu tanto para que os interessados pudessem trocar experiências e informações inerentes à temática quanto para inspirar a construção de novas hortas. Com cerca de 74.600 membros, as atividades da página variam desde a troca e venda de sementes até discussões mais amplas.

Na tese Agricultura urbana como ativismo na cidade de São Paulo: o caso da Horta das Corujas, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Geografia Humana, em 2016, Gustavo Nagib apontou, entre outros fatores, o pioneirismo dessa horta e o papel desempenhado pela rede Hortelões Urbanos.

O cenário atual ultrapassa a da já consolidada Horta das Corujas, na Vila Beatriz. As Hortas da Saúde, da Faculdade de Medicina da USP, do Centro Cultural São Paulo, do Ciclista, das Flores, da Vila Esperança e da Nascente fazem parte da expansão dessas criações (sejam elas comunitárias ou institucionais).

Grupo de Estudo em Agricultura Urbana (GEAU)

O GEAU foi institucionalizado no Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP) em 2016. O grupo é formado por pós-graduandos das mais variadas áreas (geografia, medicina, gestão ambiental, entre outros) e instituições (USP, FGV e Universidade de Rennes 2) interessados pela agricultura urbana.

Em 2015, antes de pertencerem ao IEA, membros do grupo produziram o trabalho Agricultura Urbana: Produção, Varejo e Consumo de Alimento, com o qual conquistaram o 5º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, na categoria “Academia – Estudante”. Fato que contribuiu para a decisão da institucionalização do grupo, segundo Gustavo.

Ao longo do ano, uma série de eventos trouxeram à tona estudos, pesquisas e debates acerca de questões intrínsecas ao tema. A realização desses encontros visa, além dos conteúdos referenciais, levar esse diálogo à Universidade e à sociedade civil.

Horta do Ciclista / Setembro de 2015. Crédito: Gustavo Nagib

 

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