Iniciativa virtual presta assistência às mulheres que sofreram violência

Práticas de acolhimento e fortalecimento da vítima fazem parte da rotina

Crédito: Pixabay

O projeto Minha Voz auxilia mulheres que sofreram algum tipo de violência. Por meio do espaço virtual, as vítimas compartilham suas experiências e tiram dúvidas sobre a temática. A ideia é que, num futuro próximo, os dados obtidos via questionário contribuam para um trabalho estatístico. O caminho, entretanto, é longo.

Desenvolvida no Hackathon de Gênero e Cidadania, promovido pela Câmara dos Deputados em conjunto com o Banco Mundial, em 2014, a iniciativa obteve o prêmio na trilha da Violência contra a Mulher. A criação se deu num período que muitos teóricos delimitaram como uma “Primavera das Questões de Gênero” na internet.

O antigo site Clique 180 (hoje um app), que fornecia informações sobre os tipos de violência e os caminhos que a mulher deveria seguir, assim como levantamentos do Think Olga inspiraram a elaboração. A equipe é formada por uma designer gráfica, uma professora universitária, uma psicóloga e um desenvolvedor.

Impactos da violência

Segundo Daniela Rozados, fundadora do site, psicóloga e pós-doutora pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), “a violência corresponde a uma experiência de impotência, isto é, de perda de controle por parte de quem sofre”. Existem diferentes tipologias para os atos contra a mulher. Moral, psicológica, física, sexual e patrimonial estão entre as mais rotineiras.

Por intermédio do espaço “Depoimentos”, inúmeras histórias são compartilhadas na página. Os relatos, abordados de maneira que os nomes dos agressores não são divulgados, evidenciam a gravidade do contexto. A opção pela não revelação dos indivíduos evita problemas jurídicos.

Os efeitos da violência ultrapassam o espectro do ato. Numa sociedade interligada, os acontecimentos se alastram e impactam todos os envolvidos. “Dependendo da cidade onde a pessoa mora, a família inteira tem que se mudar. A vida dessas pessoas fica destruída”, diz.

Nesse sentido, a psicóloga crítica a exposição das vítimas em alguns casos espetacularizados pela mídia. Ademais, deixa claro em quais instantes os movimentos sociais interferem no processo de recuperação da mulher.

“O trabalho terapêutico, muitas vezes, se trata de retomar a autonomia da pessoa. Isso significa tirá-la dessa condição de vítima. Enquanto a militância precisa reafirmar. Ela é necessária, mas quando vamos para o micro, para o terapêutico, precisamos tirar a pessoa daquela posição. Caso contrário, ficará vivendo eternamente aquele momento.”

Em muitos casos, as vítimas esbarram nas questões burocráticas ou desconhecem as leis que as resguardam. Por outro lado, algumas situações constrangedoras também ocorrem para quem já conhece os trâmites. “Mesmo quando existe a lei que deveria te amparar, às vezes, em lugares de referência, você escuta histórias absurdas.”

Grupos e mapeamento

A psicóloga pretende desenvolver grupos terapêuticos para militantes no ano que vem. Para isso, está fazendo uma especialização em Psicodrama, no Instituto Sedes Sapientiae. A saúde mental dessas pessoas, que lidam constantemente com situações densas e prestam assistência, será o foco.

No que diz respeito ao Minha Voz, Daniela deixa claro que a ideia do mapeamento dos dados existe desde o início. Em virtude da falta de “braços”, do modo como o tema consome a pessoa e exige um certo distanciamento em alguns períodos e dos esforços centrados nos grupos terapêuticos, ainda não foi colocada em prática. A empreitada, contudo, segue como uma intenção para os próximos anos.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*