Oxidação celular agrava doença de pele

Células de pacientes com xeroderma pigmentoso variante são afetadas por raios UV, mas antioxidante é capaz de reverter danos.

SP-CLIMA- 18.04.2011. A semana começa com sol forte e calor em São Paulo. Na foto Zona Sul de São Paulo. Créditos: Rahel Patrasso/Frame

O xeroderma pigmentoso é uma síndrome rara que afeta aproximadamente uma em cada 200 mil pessoas e cuja consequência é uma maior susceptibilidade a câncer de pele. Os pacientes, devido a mutações no DNA, não são capazes de corrigir lesões causadas por raios ultravioleta em suas células. Enquanto os portadores da versão clássica da doença a manifestam devido a mutações nos genes A a G, responsáveis pelo reparo das lesões, aqueles que possuem xeroderma pigmentoso variante contam com uma alteração na proteína responsável pela replicação do DNA.  

Em sua tese de doutorado, Natalia Cestari Moreno explorou os efeitos da luz UVA nas células de pacientes com a síndrome variante, analisando os efeitos dela na mutagênese (replicação de células mutadas), no ciclo celular e na resposta a danos. Seu estudo se atentou aos danos diretos e indiretos provocados pelos raios ultravioleta.

A ideia partiu de um teste de laboratório que rendeu resultados inesperados: as células irradiadas com luz UV, apesar de terem a via de reparo atuante, não foram capazes de reverter os danos induzidos pelos raios. Após refazer os testes múltiplas vezes e verificar o mesmo resultado, ela iniciou a sua pesquisa. Ao buscar precedentes em outros trabalhos, Natalia descobriu que as proteínas de NER, responsáveis pelo reparo do genoma, poderiam ser oxidadas devido à radiação UVA, perdendo, assim, a sua função. Essa oxidação é denominada “estresse oxidativo”, e, além disso, pode causar uma série de efeitos negativos à célula.

O estudo avaliou separadamente como a célula respondia ao estresse oxidativo, comparando os resultados obtidos em uma célula exposta à luz UV com e sem um antioxidante. “Todos os efeitos deletérios que a equipe viu — parada de ciclo, aumento de morte celular, de sensibilidade, aumento de genotoxicidade — são revertidos mediante o uso do antioxidante”, conta Moreno. Para a surpresa dos pesquisadores envolvidos, o papel do stress oxidativo era muito maior do que se pensava, sendo possível reverter uma grande parcela dos danos com seu combate.

O estresse oxidativo também explicaria o desenvolvimento ocasional de tumores internos nesses pacientes, que, a princípio, os teriam apenas na pele, órgão diretamente exposto à luz. Além disso, a pesquisa também foi capaz de demonstrar, pela primeira vez, que os danos causados pela luz ultravioleta “recrutam” proteínas para seu reparo. Anteriormente, acreditava-se que tais lesões eram um grande problema por não enviarem esse sinal.

Ainda não se sabe ao certo se as proteínas de NER estão entre as afetadas pela oxidação, mas o enfraquecimento de sua capacidade de reparo sugere fortemente que sim. O efeito nessas proteínas específicas será estudado pela pesquisadora em um pós-doutorado.

Sobre a forma como essa descoberta poderá ser incorporada ao tratamento de pacientes com xeroderma pigmentoso variante, Moreno diz que a pesquisa ainda deve evoluir para que isso seja possível, mas que imagina algum tipo de protetor com o antioxidante. Seu uso seria capaz de reverter alguns dos danos e deixar a doença um pouco mais branda.

 

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