Mídia brasileira reforça políticas históricas de branqueamento do país

Pesquisa estuda causa da hiper-valorização da população branca em meios, como a televisão e o rádio

O quadro 'A Redenção de Cam' (1895) de Modesto Brocos se tornou símbolo da tese do branqueamento da população brasileira. Crédito: Reprodução

A discussão sobre a falta de representação da população negra nas mídias brasileiras, como na televisão e na rádio, está cada vez mais difundida entre a população. Uma pesquisa da Faculdade de Direito (FD) da USP, mostra que esse fenômeno pode estar relacionado com as políticas para branqueamento da população implementadas pelo Estado, após o início do período de escravização de africanos no país.

O pesquisador Tiago Vinicius André dos Santos abordou o tema para a sua tese de doutorado, intitulada de Desigualdade racial midiática: o direito à comunicação exercido e o direito à imagem violado. Santos decidiu mudar a perspectiva utilizada normalmente para analisar esse tipo de representação e investigou os motivos pelo qual há uma hiper-valorização de pessoas brancas nesses espaços. “A discriminação é um fator estruturante da sociedade brasileira. É o que chamamos do racismo estrutural. Ele tem uma história que vai se formando e metamorfoseando com o tempo”, explica.

Era do branqueamento

Santos defende que o Brasil passou por um período em que “usou de uma força política da máquina administrativa para trazer os europeus para o Brasil, em uma tentativa de deixar a população mais branca”. Já na década de 1960, há um conjunto de políticas públicas para incentivar a ampliação do uso da televisão e do rádio no Brasil. “Esses meios serviram para estabelecer um consenso social de que o governo brasileiro estava no caminho certo e de que vivemos em uma democracia racial”, defende.

O termo “democracia racial” é utilizado para definir a ideia de que no Brasil não há desigualdade de raças, por conta do alto índice de miscigenação. “Com a atuação de movimentos sociais e uma série de legislações criadas para proteger a população negra, esse mito foi predominantemente superado até 1988”, explica o pesquisador.

Na telinha

A falta de representação de negras e negros pode ser ainda maior na televisão aberta, por conta da dificuldade para a criação de novas concessões. No Brasil, o pesquisador encontrou apenas uma experiência de um canal voltado para grupos sub-representados: a TV da Gente, do apresentador Netinho de Paula.

A emissora, que foi inaugurada no dia da Consciência Negra de 2005, tinha programas produzidos e voltados para a população negra. Em menos de três anos, no entanto, a empresa perdeu o caráter nacional e passou a ser exibida apenas no estado do Ceará.

Mudança

Santos defende que hoje há um quadro maior de pessoas negras trabalhando no sistema midiático brasileiro, mas “a estrutura passou por poucas modificações”. Para uma mudança efetiva, a legislação de concessão desses espaços, deve ser alterada. “É fundamental repensar a concessão das mídias levando em consideração a pluralidade da sociedade brasileira. Leis que demandem que a diversidade da população esteja contemplada na mídia são essenciais.”

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