Ocorrência de brisas aumenta concentração de ozônio em Cubatão

Pesquisa identificou efeito dos fenômenos atmosféricos nos índices de poluentes na cidade

Atmosfera de Cubatão é fortemente afetada pelos poluentes emitidos em sua zona industrial. (foto: BBC)

A situação atmosférica de Cubatão é bastante complicada em razão do amplo polo industrial que a cidade abriga. O efeito das brisas terrestre e marítima nas concentrações de ozônio, um dos principais poluentes da região, foi estudado por Tayla Dias, pesquisadora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Foi identificado que dias com a presença das brisas são também os dias com maior concentração do elemento na atmosfera da cidade.

Isso se deve ao fato de que as brisas transportam poluentes de um lugar a outros. O ciclo se inicia principalmente em São Paulo e na zona industrial de Cubatão. As substâncias emitidas pela grande frota veicular da Capital, formadores do ozônio, são levados pelos ventos à costa, e depois, devolvidos ao município da região da Baixada Santista.

Entendendo a brisa

A escala dos eventos atmosféricos é medida por tempo e espaço. Um evento de mesoescala deve percorrer de 20 a 200 km, e durar de algumas horas até um dia para ser considerado como tal. A brisa é um exemplo, e sua formação pede situações favoráveis, como a ausência de sistemas sinóticos dominantes, que são de escala superior. A convergência de umidade que vem da Amazônia para a região sudeste é um exemplo destes eventos de maior escala.

A brisa marítima depende do grau de temperatura horizontal. A brisa é rente à superfície, e a chamada corrente de retorno se localiza a aproximadamente 1km de altura. O que ocorre é o aquecimento e a consequente expansão do ar na superfície costeira. Assim, um centro de alta pressão é gerado neste nível mais elevado e o resultado é uma compensação que faz com que o ar acima se desloque em direção ao oceano.

Com o ar da superfície subindo para preencher o espaço deixado pela corrente de retorno, e o ar rente ao oceano avança em direção ao continente, criando assim a brisa marítima, um ciclo é formado.  

Em Cubatão, se soma a este cenário a ilha de calor, decorrência da urbanização, no entanto a brisa marítima é dominante. O terreno no qual a cidade está inserida, a Serra do Mar, é um tanto complexo, segundo a pesquisadora. Há a ocorrência de ventos anabáticos, durante o dia, que sobem devido à diferença de temperatura entre a base e o topo da serra. “A brisa marítima se acopla a esses ventos, e fazem os fenômenos chegarem até a cidade de São Paulo”, afirma. À noite, se dá o inverso, com a formação de ventos catabáticos.

Prevalecem as emissões industriais em Cubatão, as fontes fixas, mas há também um estoque de poluentes primários envelhecidos. O ozônio é considerado secundário, porque não é diretamente emitido, e sim formado através de outros elementos. Os poluentes que dão origem ao ozônio são emitidos em grande escala em São Paulo, por fontes veiculares.

À noite, a formação da brisa terrestre, juntamente com os ventos catabáticos, traz os poluentes para perto da costa. No nascer do dia, os ventos se invertem novamente, e a luz do sol dissocia os elementos que formam o ozônio, que é levado a Cubatão.

Para além da zona industrial

Os dados consultados para a pesquisa foram obtidos no Qualar, da Cetesb, onde são disponibilizadas as variáveis meteorológicas e os índices de poluentes. Para a pesquisa, foram coletados dados de 2003 a 2012. Foi observado que as concentrações de ozônio variam proporcionalmente à temperatura. Também, as concentrações dos poluentes que formam o ozônio são maiores durante o inverno, devido à menor incidência de radiação solar, que dificulta a dissociação destes compostos. Além disso, neste período, a camada limite planetária fica menor, fazendo com que os poluentes se concentrem mais próximos ao solo.

A brisa marítima foi identificada a partir da direção dos ventos. Foram excluídos dos cálculos os dias que tinham dados incompletos. Através das cartas sinóticas meteorológicas, disponíveis na Marinha, foram identificados os dias de ocorrência de sistemas sinóticos, que também foram excluídos. Por último, foram excluídos os dias em que houve ventos vindos de sul e sudeste, porque não coincidiam com a teoria do padrão de direção das brisas.

Segundo a pesquisadora, os lugares podem ser propensos a estagnação do ar, recirculação dele ou ventilação. Se o vento se desloca menos de 170 km, está propenso a estagnação. Se houver um percentual maior do que 40% de recirculação, esta é a tendência da área. E se o deslocamento for maior de 250 quilômetros, com pouca recirculação, a tendência é de ventilação.

Na cidade de Cubatão, onde há três estações meteorológicas, foi identificada forte tendência de estagnação na estação Centro, recirculação na Vila Parisi, onde fica o complexo industrial, e ventilação no Vale do Mogi.

Contrariando o senso comum, foram encontrados baixos índices de ozônio na área industrial, o que é explicado pelo fato de que os ventos tiram os poluentes de seus locais de origem e levam a outros.

Pela análise dos padrões de brisa, foi possível observar que ela se inicia às 10 horas da manhã, tem sua intensidade máxima às 14 horas, e cessa às 18 horas. Entre os dias 1º e 7 de fevereiro de 2010, quando foi feito um estudo de caso em Cubatão, índices de ozônio acima dos padrões recomendados, e também acima do estado de alerta foram encontrados.

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