Cremes à base de cafeína promovem combate à celulite

Pesquisa analisa o uso da nanotecnologia no desenvolvimento desses cosméticos

Não é só estética: celulite pode ter complicações e até causar dor. Foto: iStock

A Hidrolipodistrofia Ginóide (HDLG) — popularmente conhecida como celulite — é uma condição que atinge de 80% a 90% da população feminina após o período da puberdade, e se caracteriza por uma acumulação de gordura na pele e flacidez na área afetada. Já a cafeína, além dos efeitos muito conhecidos pelos amantes de café, é lipolítica, ou seja, promove a redução de gordura, e, por isso, é utilizada em formulações de cosméticos e cremes de massagem e, após passar pela barreira da pele, pode promover a “quebra” da gordura dos adipócitos (células de gordura) e também pode diminuir seu número. Com isto, o aspecto da pele se modifica e diminui o aspecto “casca de laranja”

As fórmulas atuais enfrentam dois principais desafios: a dificuldade de passar pela epiderme (primeira barreira) e penetrar na derme, camadas mais profundas da pele humana onde se localizam os adipócitos, e a tendência à precipitação, ou seja, formação de pequenos cristais no creme, que podem causar incômodo nos usuários.

Foi pensando nisso que a pesquisadora Thamires Freire, em sua pesquisa de mestrado, analisou o uso de nanotecnologia na formulação desses cosméticos. Ela explica que, com esse recurso moderno, seria possível reduzir a concentração de cafeína no produto final e diminuir o tamanho das micelas — partículas que carregam o princípio ativo do fármaco — permitindo, assim, uma maior penetração na pele.

Além de analisar a eficácia do processo, Thamires também verificou a questão da segurança: “Por se tratar de partículas muito pequenas, deve-se ter o cuidado para não penetrar demais e acabar caindo na corrente sanguínea, por exemplo”. Ao contrário de outros estudos da área, a pesquisa inova ao utilizar pele humana nos testes, e não de animais, o que confere resultados mais próximos do real.

O que é a celulite

Conhecida pelo seu aspecto de “casca de laranja”, a celulite é o acúmulo lipídico entre as fibras de sustentação da pele humana, gerando um processo inflamatório. É muito comum entre as mulheres, principalmente nos quadris e pernas, devido a dois fatores principais: o hormônio estrógeno, que promove o afrouxamento das fibras, e o próprio arranjo tecidual feminino — enquanto as fibras masculinas são mais rígidas e prendem melhor os adipócitos, o tecido da mulher é mais frouxo e permite que as menores alterações se manifestem na superfície da pele, visíveis na forma de flacidez, porque o adipócito fica “aprisionado” com uma estrutura de tecido diferente ao redor.

Apesar de ser uma preocupação estética entre o público feminino, a celulite não é só um problema de padrão de beleza. A professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Maria Valeria Velasco, orientadora do projeto, explica que a estrutura pode comprimir vasos e que a condição possui graus: “Uma pessoa com celulite grau IV, o mais elevado, pode sentir dor, e por isso esses produtos de tratamento são importantes”.

Resultados

Sendo um estudo inicial, a pesquisa detectou as limitações da cafeína na escala nano, já que a substância ainda exige altas concentrações para agir. Mesmo não resultando em um produto pronto para o mercado, a pesquisa resultou em um modelo nanotecnológico estruturado e que pode ser utilizado para futuros estudos, incluindo outros princípios ativos, o que, segundo a professora Maria, é essencial: “Tudo que envolve nanotecnologia tem que ser muito bem estudado, porque pode ter ou não o resultado esperado, assim como pode ou não ter perigo de uso”.

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