Setenta por cento das famílias removidas pela construção do monotrilho escolheram indenização em dinheiro

As obras do metrô São Paulo expropriou mais de 500 famílias que ocupavam o Jardim Aeroporto

Obras do monotrilho da linha 17-Ouro do Metrô na avenida Washington Luis, próximo ao Aeroporto de Congonhas (Foto: Nelson Antoine/Framephoto/Estadão Conteúdo)

Uma pesquisa feita pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP mostrou os caminhos escolhidos pelos antigos moradores do Jardim Aeroporto, em São Paulo. Essas pessoas foram removidas, em 2012, dos terrenos que ocupavam para dar espaço para a construção da Linha 17 – Ouro, monotrilho que constitui o sistema metroviário de São Paulo. Sara Macedo, autora da dissertação de mestrado, explica que as 500 famílias habitavam terrenos particulares abandonados por seus donos, próximos ao aeroporto do Congonhas.  

A pesquisa focou nas opções de indenizações oferecidas pelo governo paulista, nas escolhas das pessoas e no que aconteceu com elas após suas decisões. Havia duas opções: receber uma indenização em dinheiro ou receber um apartamento no complexo de habitação que a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) iria construir para as famílias removidas.

A pesquisadora explica que a CDHU acreditava que a maioria fosse escolher o apartamento para continuar no mesmo local. A grande surpresa, explica Sara, é que 70% dos moradores preferiram a indenização em dinheiro ao apartamento: “estávamos subestimando a capacidade deles de escolherem o que era melhor para si”.

O valor da indenização, composta pelo tempo de moradia no local e o custo da benfeitoria, era razoavelmente alto, o que foi um atrativo para a população. Outro fator que impulsionou a decisão foi a liberdade da autoconstrução em outro local que o dinheiro pode prover, somada a não necessidade de pagar o financiamento do apartamento construído pela CDHU.

Oitenta por cento dos que escolheram a indenização conseguiram resolver seus problemas habitacionais. A maioria se deslocou para regiões menos valorizadas, onde o conseguiram comprar, alugar ou construir novas casas. “Os moradores tinham vontade de ficar lá, mas não confiavam no poder público, o que causou uma dispersão”, conta Sara.

Aqueles que escolheram o apartamento não tiveram tanta sorte. As obras estão inacabadas até hoje, tanto do monotrilho quanto do conjunto habitacional. Os outros 30% estão recebendo auxílio moradia e esperando a finalização da construção, que se encontra parada no momento.

Um dos motivos desses atrasos é o entrave jurídico que o metrô tem sofrido por parte dos donos dos terrenos desapropriados. O Jardim Aeroporto é uma área nobre de São Paulo e se valorizou mais ainda com a remoção dos ocupantes. Os donos e o mercado imobiliário tentam utilizar esse solo para interesses próprios, atrasando a construção.

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