A divulgação científica fora as revistas acadêmicas carece em apoio financeiro

Mesmo com projetos e organizações que realizam a divulgação, a manutenção dos projetos ainda é precária

Projetos e intenções não faltam. O que falta são financiamentos e manutenção dos projetos. Foto: Marcos Santos (USP Imagens)

[1] Por Carolina Pulice, José Paulo Mendes, Julio Viana e Maiara Prado

Uma das bases da promoção da ciência é a comunicação. Feita através da divulgação científica (em uma linguagem mais informal, que se aproxime do público comum), esta comunicação tem sido tema de debates de quem está fora e dentro do mundo acadêmico. Além dos debates, são muitas as iniciativas que buscam auxiliar na divulgação do conhecimento. No Brasil, alguns casos bem-sucedidos mostram um lado positivo da divulgação científica, que, se efetuada com seriedade e frequência, pode estimular a população a também produzir ciência.

A plataforma Sustentáculos é um exemplo de projeto que uniu todos os aspectos positivos da divulgação para tratar de um único, mas complexo conceito: a sustentabilidade. Idealizada pelo professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), José Eli da Veiga, a plataforma traz vídeos, textos e materiais didáticos para tratar o tema e todos os conceitos ligados às questões de sustentabilidade, no mundo todo. Com a ideia de fugir do mundo acadêmico e se aproximar das artes e, consequentemente da sociedade, o professor da USP convidou para participar do projeto a escritora de livros infantis Lia Zatz, que participou da elaboração do material audiovisual da Sustentáculos.

Para Lia, a importância de discutir a questão da sustentabilidade ocorre porque ainda “engatinhamos” no assunto. “É imprescindível discutir a sustentabilidade, porque a questão é muito grave e muito séria e ainda falta muito para que se atinja o grau de consciência e ação exigidos para lidar com as questões colocadas pelos ODS”, afirma. ODS são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desenvolvido por especialistas da área, em conjunto com governos mundiais e a Organização das Nações Unidas (ONU).

Outra instituição que tem auxiliado na promoção da ciência e de sua divulgação é a Serrapilheira. Fundada em 2017, a organização tem como objetivo principal promover a ciência no país. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o diretor da organização, Hugo Aguilaniu, afirmou que um dos critérios para selecionar projetos científicos era propor apenas avanços incrementais. “Buscamos as propostas mais ousadas. Sabemos que esse tipo de aposta contém um risco, mas as grandes descobertas quase sempre vêm de perguntas audaciosas, de fora da caixa”, afirmou.

Neste ano, o Museu da Vida e a Casa de Oswaldo Cruz, do Instituto FioCruz lançaram um curso de especialização em divulgação e popularização da ciência. O curso, destinado a museólogos, comunicadores, jornalistas, cientistas, educadores, sociólogos, cenógrafos, produtores culturais, professores de ciências licenciados (nível superior), tem como objetivo incorporar uma análise crítica da produção científica no país, e promovê-la através da popularização.

A inovação conta muito para a divulgação científica. Porém, não é o único meio de promover a discussão sobre o tema. Um projeto idealizado em 2005 ainda permanece nas estações de metrô da cidade de São Paulo. O projeto Semear Ciência, idealizado pelo Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CPGH) do IB-USP, promove a transferência de conhecimento e o ensino acadêmico para a população. Em 2014, o projeto começou a divulgar algumas das pesquisas e discutir temas sobre saúde com a população. O cartaz traz uma pergunta instigante, e um QR code. Com um celular em mãos, o usuário pode ler o código, que o encaminhará para o site do projeto. Lá ele encontrará as respostas das perguntas dos cartazes, e outras informações sobre o tema. Além disso, imagens interativas e de fácil entendimento fazem parte do site.

Projetos e intenções não faltam. O que falta, no entanto, são os financiamentos e a manutenção dos projetos. A plataforma Sustentáculos, por exemplo, conta com o apoio da Fundação Natura, que tem promovido, desde 2011, editais e outros apoios financeiros para projetos de divulgação de projetos sociais. Entre os projetos, a ciência. O apoio, porém, foi realizado somente para a criação da plataforma. Não houve e não há apoio para atualizar ou manter a plataforma. Além disso, ainda existe a preocupação de como a informação vai chegar ao público. De acordo com Lia, da plataforma, o acesso às informações e à divulgação científica ainda é precário, porque não chegam às escolas, onde o debate deveria ser mais efervescente. “O acesso teria que estar dentro das escolas que é onde crianças e jovens passam a maior parte de seu dia. Portanto há várias questões a serem enfrentadas, como a formação de professores, a relação das escolas com as universidades e com as instituições científicas”, afirma.

[1] Todas as grandes reportagens desse ciclo são datadas e foram escritas ao longo do primeiro semestre de 2018 até o seu término.

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