Implantação de políticas econômicas pode amenizar áreas de conflito

Estratégias de contra-insurgência voltadas para a economia demonstram aumento de oportunidades

As políticas visam promover uma melhoria nos indicadores econômicos da sociedade civil. (Imagem: John Vizcaino / Reuters)

Para confrontos de guerra localizados, uma das principais problemáticas gira em torno da maneira como a população é afetada: o conflito desestabiliza a economia e condições locais e diminui oportunidades para civis. Em sua dissertação de mestrado para Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), Jason Davis, através de uma bolsa de estudos fornecida pelos Estados Unidos, seu país de origem, analisou os efeitos de incentivos locais na melhoria das condições de vida da população.

Davis se debruçou a respeito da experiência vivenciada pela implantação do Plano Colômbia de 2000 a 2011, acordo bilateral criado pelos governos colombianos e estadunidenses, que voltava parte dos seus investimentos para a revitalização social e econômica, para amenizar o conflito armado interno que acontece no país latino americano.

Desde os anos 1960, o interior da Colômbia é alvo de uma série de combates armados que deixaram o país sob forte instabilidade. O conflito, de origem política e com as mais diversas diversificações, engloba a disputa por influência no território por parte das instituições governamentais e organismos paramilitares. A questão envolve diretamente a vida da população e está relacionada com tráfico de drogas, sequestro de civis e perseguições.

Em sua pesquisa, Jason se preocupa em enxergar a abordagem de contra-insurgência, isto é, as políticas voltadas para combater essas entidades paramilitares, de forma sistêmica: “há o que é conhecido como imputs [nesse caso, recursos: pessoas, comida, materiais], que promovem uma dinamização ao contexto”, destacou. Para seu estudo, adaptou a estrutura de análise econômica de Nathan Leites e Charles Wolf Jr., pesquisadores que visualizaram a perspectiva de contra-insurgência através da experiência estadunidense no Vietnã.

“O que ocorre em casos como o colombiano, é que a população passa a desconfiar do governo atual, devido ao contexto instável. A intervenção é promovida de formas e em momentos variados, mas para o âmbito de estudo, me atentei para as competências que eram relacionadas ao governo diretamente e, dentro disso, o aspecto econômico”, afirmou. Dessa forma, a pesquisa promove uma abordagem diretamente ligada aos aspectos econômicos dos incentivos e seus efeitos. 

Mais especificamente, o pesquisador o analisou o impacto de dois programas, o de Areas For Municipal-Level Alternative Development – ADAM e o Additional Investment for Sustainable Alternative Development – MIDAS em quatro indicadores sociais: o Produto Interno Bruto (PIB), o PIB per capita, pobreza e índice de desemprego. Ambos programas atuavam para desenvolver municípios que se inserissem na legalidade novamente, e focavam em áreas essenciais da sociedade, impulsionando a criação de empregos em setores de desenvolvimento (como a agricultura), a melhoria de políticas públicas e a cooperação civil.

De acordo com Davis: “durante o período em que os programas estiveram implantados, houve uma melhoria desses indicadores, com uma diminuição do índice de desemprego, e um aumento do desenvolvimento”. Ao mesmo tempo, observou-se uma diminuição da violência local, com queda de ataques nas localidades em que foram implantados. Os homicídios por atentados, por exemplo, diminuíram na metade. Porém, o que destaca é que não há uma variável específica que relacione a violência com essa melhoria de indicadores, o que torna difícil confirmar uma relação de causalidade entre ambas situações. “O que se observa é uma saída das pessoas de um mercado de trabalho ilegal para a regularidade”, afirmou. 

Outro ponto que Jason ressalta é que as estratégias implantadas servem, também, como forma de garantir, para a população civil, oportunidades que são dever estatal. Na opinião do americano, um foco extremo na mera segurança pela parcela militar não altera o contexto nos outros fatores que promoveram os movimentos de insurgência em primeiro lugar, isto é: a ineficiência pública, falta de oportunidades e instabilidade.

Mesmo não sendo possível associar diretamente a diminuição da violência com a implantação das políticas, a pesquisa evidencia as estratégias como uma forma de promover um outro tipo de desenvolvimento e incentivo na sociedade civil, visando a melhoria do contexto em que se encontra.

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