Fazendas urbanas beneficiam consumidor e produtor

Produção agrícola nas cidades melhoram qualidade de alimento e diminuem perdas com transporte.

O conceito em geral é produzir em espaços urbanos na menor quantidade de metros quadrados. Foto: Pixabay (www.pixabay.com)

O caminho do alimento desde a fazenda, quando é colhido pelo agricultor, é longo e atravessa diversas etapas produtivas até chegar ao mercado, exposto na área de hortifruti, onde os consumidores estão familiarizados. Ao comprar um alimento, pouco se pensa sobre a origem e o processo que o trouxe até a prateleira. No entanto, esse percurso pode gerar perdas de até 50% com os manuseios como na colheita, no carregamento do caminhão e no transporte. Também devido aos tombos, o agricultor vende a um preço mais baixo, pois sabe que apenas uma parte chegará ao consumidor final. Com uma distância menor entre o comprador e a produção do alimento, há menos necessidade de diversos transporte e consequentemente menos prejuízo.

As chamadas fazendas urbanas são qualquer produção agrícola em limite urbano e, apesar de terem um custo maior na produção, têm perdas menores, entre 5% e 10%. Um outro conceito é o de fazendas verticais que busca realizar uma produção agrícola adensada, através de empilhamento de produção com prateleiras e jardineiras, sempre pensando na proporção de quantidade de terra, profundidade, distribuição de água e luminosidade. A pesquisa realizada por Cristiane de Ávila Amaral, arquiteta formada pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e mestra em ciências pela Escola Politécnica da USP (Poli-USP), buscou juntar essas duas propostas e avaliar a viabilidade através de um ponto de vista financeiro.

Atrativo financeiro e mercado necessitado

A tecnologia é aplicada em países que apresentam problemas de abastecimento alimentar, como Singapura ou alguns lugares dos Estados Unidos, onde está localizada a AeroFarms, maior fazenda vertical do mundo. Instalada em New Jersey, a empresa, dentro de enormes galpões e com o auxílio de estantes produtivas completamente automatizadas, cresce e vende micro vegetais comestíveis, os chamados microgreens. Considerados a segunda fase do desenvolvimento de uma planta são vendidos a sete ou oito vezes mais que uma hortaliça comum. A venda desse tipo de vegetal consegue sustentar financeiramente toda a tecnologia envolvida em sua produção.

Em sua pesquisa, Cristiane Amaral usa os valores referentes ao alface, uma vez que é a hortaliça mais barata, para avaliar o custo total de sistemas e de sua operação em área urbana. O primeiro foi a hidroponia, um método de cultivo que controla as quantidades de água, sais minerais e oxigênio através de uma solução em um meio que não o solo. Apesar de ter se mostrado lucrativo e gerar mais de 100 reais por metro quadrado, após estudos que indicavam a possibilidade de concentração de metais pesados no tecido vegetal, como o nitrato que, em grandes quantidades, pode causar câncer, a arquiteta abandonou o método.

Aquaponia é o método que associa a piscicultura, criação de peixes, com o cultivo de plantas, de modo a utilizar os dejetos ricos em nutrientes para nutrir os vegetais que, por sua vez, filtram a água para os peixes. O sistema, além de não ter um retorno rápido, ocupa uma área maior que a necessária apenas para a produção de vegetais devido a produção de peixes, “dizem que é preciso de mil metros quadrados para ter um retorno financeiramente adequado”, conta a pesquisadora.

Ao simular com alimentos orgânicos, traz a tecnologia de Singapura, país que possui condições climáticas semelhantes às do norte do Brasil, onde também há carência no abastecimento de hortaliças e apresenta um possível mercado para as fazendas urbanas. “Com o cálculo dos valores de implantação, importação das estantes, custo relativo de estufa, água, energia, o menor produto viável foi uma área de 300 metros quadrados”, afirma. Assim, o retorno financeiro resultante desse sistema pagaria um aluguel de 50 reais por metro quadrado.

“Em Belém do Pará, por exemplo, há importação de hortaliças de outros estados e até de outros países, devido a produção ser sazonal”, conta Cristiane. Existe mercado para essa tecnologia na Bacia do Rio Doce, após o desastre de Mariana em 2015, nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos.

Implantação nas cidades

Cristiane fala sobre a transformação de terrenos economicamente ociosos de modo a trazer rentabilidade: “Ao invés de fazer estacionamento, poderia ser feita uma agricultura urbana. Vai ter uma produção agrícola, conseguir distribuir por aquele bairro, pode ser com um próprio hortifruti no terreno. Tem várias opções que podem ser feitas nessa situação”. Inclusive a parceria com mercados locais de forma a ter a venda garantida.

A pesquisadora também fala sobre a produção agrícola em lajes de coberturas, como a horta horizontal do Shopping Eldorado. No entanto, quando se compra um terreno, pode-se construir algumas vezes a área dele, áreas computáveis, e constroem o máximo que podem para ter maior utilidade financeira. Para proteger essa horta de intempéries, cobre-a por uma estufa, e com essa cobertura a área se torna computável, impedindo a maior chance do projeto ir para frente. Uma mudança precisaria de um projeto de lei que permitisse que a cobertura tenha produção agrícola sem ser computável.

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