Quarteirão de São Paulo é modelo de integração da estrutura urbana e social

Estrutura tem suas peculiaridades na cidade e é parte de um importante elemento social

Ao contrário das comparações, os quarteirões paulistanos tiveram planejamento desde a década de 40. Fonte: Felipe de Souza Noto

Planejamento urbano é parte importante do plano diretor de qualquer cidade e as estruturas das maiores cidades ainda encontram sua identidade a partir dos quarteirões ou quadras. Com o papel desse modelo no contexto, o doutor em arquitetura Felipe de Souza Noto escreveu a tese O quarteirão como suporte da transformação urbana de São Paulo, pela FAU USP, para abordar como o arranjo molda e constrói a cena citadina.

O objetivo do trabalho era identificar quais as características que tornavam uma das unidades mais comuns do meio urbano um agente de modificação da cidade de São Paulo. Noto aponta, na tese, que a estrutura é pouco explorada por arquitetos e urbanistas, mas fundamental para a estabilidade do tipo de conjuntura que a capital paulista apresenta hoje.

Sobre sua função, Noto ressalta, ainda, a importância das quadras como órgão integrador e de alicerce para o destino do desenvolvimento urbano. É a partir do pensamento de lote que surgem as demais construções nas zonas da cidade. “O quarteirão se oferece como essa oportunidade de pensar a cidade, mais precisamente a transformação da cidade, ainda com a possibilidade de algum controle do desenho”, afirmou.

Mal planejado?

Para Noto, o que se diz sobre a cidade de São Paulo não é verdade. O pesquisador comenta que, apesar do modelo de quadras ser criticado na cidade, a estrutura funciona. A comparação com metrópoles europeias, como Barcelona e Paris – que tem seus planos de bairro centrados nos padrões de quarteirões – somente é válida em partes, e não se aplica para a realidade da maior cidade brasileira. “É muito comum a repetição do mantra de que São Paulo não foi bem planejada ou que não foi planejada. Não é verdade: há uma infinidade de planos e estudos de planejamento feitos para São Paulo, muitos deles implantados”.

Em São Paulo, o maior problema existente não é a falta de planejamento, e sim ao que o projeto deveria atender. Noto destacou que a forma como os quarteirões foram criados não foram capazes de controlar o desenho da cidade, que hoje é evidenciado por diversos edifícios. “Estimular a associação entre os volumes construídos (ou reconstruídos), ampliar a utilização coletiva do térreo, estabelecer lógicas formais de conjunto são, no fundo, estratégias de superar as restrições do lote urbano”.  

Em Paris, os quarteirões têm construções mais estreitas e niveladas. Fonte: Sotheby’s France

O caso da cidade, então, se caracteriza por seu primeiro plano, na década de 40, que priorizava a implementação de avenidas e a verticalização. Juntamente, a modificação da década de 70, de acordo com a necessidade da verticalização agora pela ocupação e pelo negócio imobiliário. Isso, como explicado por Noto, torna São Paulo um objeto de estudo único e característico nesse aspecto. “É esta a principal particularidade do processo paulistano, que nos obriga a ver a legislação urbanística como um modelo promissor para o nosso futuro”.

Integração da vizinhança

O pesquisador trabalha, ainda, o quarteirão como fator de integração dos bairros e vizinhanças em São Paulo. O agregado de lotes se determina além das construções de casas e prédios. A convivência e a noção espacial de proximidade também são fatores que causam pertencimento do morador à região e até mesmo à cultura daquele pedaço da cidade. “Reconhecer um quarteirão como um coletivo urbano é uma tarefa naturalizada para os usuários da cidade”.

O espaço urbano comum a esses moradores evidencia a qualidade do coletivo gerado pelos quarteirões: ao passo que reúnem diversas unidades de coexistência social, também permite que o aspecto físico da proximidade componha laços entre os habitantes. Tudo isso é parte de um importante olhar mais aprofundado sobre as quadras. Segundo Noto, o quarteirão porta, naturalmente, a condição de um espaço social em escala doméstica, ao mesmo tempo em que se faz coletivo, garantindo a multiplicidade dos usos e das pessoas na região.

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