Biografia recupera história de curador negro popular

João de Camargo foi responsável por complexas práticas religiosas de matriz africana no sudeste

Filme, de Paulo Betti e Clóvis Bueno conta a história de João de Camargo (Reprodução/Cafundó)

“Qualquer estudo histórico tem como função social oferecer subsídio para a consolidação de identidades sociais, culturais e políticas, como toda pesquisa histórica. Como você tem identidade sem passado?” Esse é o questionamento da professora Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora do departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que possuí, no Instituto de Estudos Avançados.

João de Camargo foi um curador popular nascido escravo, de Sorocaba, que morreu em 1942. Fundou a Igreja Nosso Senhor do Bonfim da Água Vermelha e seu culto sobrevive até a atualidade.  Cultos, do século XIX, que precederam a criação da umbanda, mas que são similares a ela, são cultos da cabula, depois chamados da macumba, são as feitiçarias de escravos”. Segundo a professora “o interesse é fazer um amplo painel dessas práticas e de como elas chegam ao século XX e ao século XXI, porque João de Camargo morreu em 1942, mas o seu túmulo, a sua capela, está lá preservada e até hoje é ponto de calmaria”

A história de um curador negro em São Paulo da escravidão ao pós-emancipação (João de Camargo – 1858-1942)” . O objetivo da pesquisa é ir além da figura do curador, segundo a professora: “ele vai representar um tipo de culto que foi relativamente comum no sudeste escravista e que temos uma série de fontes históricas que dão conta da existência de uma série de cultos similares ao de João de Camargo”, além disso, fala sobre “populações africanas e descendentes, esses cultos tem uma matriz africana, mas eles incorporam de maneira diversa o catolicismo, o catolicismo rural e o espiritismo”.

Para a professora, à medida que nos aproximarmos da nossa história, temos condições de nos projetarmos e compreendermos melhor a nossa sociedade, e complementa dizendo que: “a idéia é tornar complexa o entendimento dos nossos cultos e experiências religiosas, e mais especificamente nos últimos anos, com a criminalização e discriminação dos cultos de origem de matriz africana e da umbanda especificamente”, segundo a professora, a religião vem com decréscimo de adesões por conta do crescimento de um preconceito social, e o estudo vem para mostrar o quanto essa prática e experiência religiosa está incorporada em nossa história.

O curador possui diversos estudos a respeito de suas práticas, mas “o interesse, em primeiro lugar, não é apenas localizar a raiz africana, mas é ver como o João de Camargo como curador, experiência religiosa, agrega outras populações e como ele trafega de um catolicismo rural do emocional para o espiritismo e obviamente as práticas centro-ocidentais africanas, então a figura como ele, a duração de seu culto e como ele é capaz de incorporar diferentes elementos”, e é isso que difere das outras pesquisas para a professora.

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