Laboratório Móvel consegue monitorar a qualidade do ar em diferentes regiões

Projeto Lumiar faz parte de programa firmado entre a Universidade de São Paulo e centros tecnológicos com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes

Créditos: USP Imagens

O Lumiar (Laboratório Móvel para Pesquisa e Monitoramento da Qualidade do Ar) tem como objetivo o monitoramento da qualidade do ar em regiões onde não há estações meteorológicas fixas. A estação móvel consegue medir a concentração dos principais componentes emitidos pela queima de combustíveis como o gás carbônico (CO2), ozônio (O3), dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de nitrogênio (NO2) e, por não ser fixa, pode analisar a qualidade do ar em regiões consideradas “menos poluídas”, como o interior e litoral. O projeto faz parte do Programa Qualamet, um acordo de cooperação inserido no Programa Brasileiro de Combustíveis, Tecnologias Veiculares e Emissões e foi inaugurado no começo de abril em evento realizado no Instituto de Astronomia e Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG),da USP.

O Lumiar (Laboratório Móvel para Pesquisa e Monitoramento da Qualidade do Ar). Foto: Beatriz Cristina

A poluição causada pela emissão de gases poluentes de veículos automotores tem sido reduzida através das novas tecnologias da engenharia automobilística. O desenvolvimento de motores de maior eficiência e combustíveis provenientes de fontes renováveis ou menos danosas ao meio ambiente são cada vez mais comuns em países como no Japão e na Comunidade Europeia, com a criação dos chamados “programas Auto Oil”, por meio de estudos e investigações das tecnologias veiculares em prol da redução da emissão de gases poluentes. Apesar de parecer algo voltado para o benefício próprio das montadoras, os dados obtidos pelos programas acabam sendo fornecidos às autoridades reguladoras daqueles países, além de informações científicas que sustentam os avanços na legislação ambiental.

“Nosso objetivo é cobrir grandes regiões metropolitanas, que são responsáveis por grande parte da emissão [de poluentes] e essas emissões não ficam confinadas nas grandes regiões. Ela é transportada pelo vento em outras áreas e isso é uma das motivações da criação do Laboratório Móvel’’, explica Edmilson de Freitas, professor do IAG e coordenador os projetos Lumiar e Qualamet.

Projetos de controle da poluição no Brasil não são recentes

Aqui no Brasil, há o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE), que desde 1986 tenta promover o desenvolvimento tecnológico nacional através da engenharia automobilística, como também em métodos e equipamentos para ensaios e medições da emissão de poluentes com o objetivo de estimular a melhoria dos combustíveis utilizados pelos veículos brasileiros. No entanto, nossa lei ambiental acaba sendo inspirada pelas leis de países considerados desenvolvidos e nas convenções internacionais por causa da falta de dados precisos. Um exemplo recente foi a Greve dos Caminhoneiros, em 2018 e as alterações na legislação ambiental que o atual governo vem implementando, retomando a discussão sobre combustíveis menos poluentes e econômicos.

Antes mesmo de ocorrer a Greve, mais precisamente em 2012, foi iniciado uma articulação entre alguns órgãos federais como o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), MME (Ministério de Minas e Energia), MMA (Ministério do Meio Ambiente), ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), e com a Cetesb, a AEA (Associação Brasileira Engenharia Automotiva), a montadora Toyota e a Petrobras para avaliar os efeitos das novas tecnologias automobilísticas na qualidade do ar. Oficializado em 2016, o Programa Brasileiro de Combustíveis, Tecnologias Veiculares e Emissões – PCVE conta com a participação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) para a realização de pesquisas e desenvolvimento. Durante o evento, o diretor do IAG Pedro Leite ressaltou a importância entre as parcerias realizadas: “Isso foi produto de um esforço de um monte de gente. Foi fundamental essas parcerias que foram criadas. Tudo isso nos levou à um conjunto de articulações e envolvendo também as agências de fomento [à pesquisa] como a Fapesp, que teve papel fundamental dessas pesquisas.”

Lumiar faz parte do programa Qualamet 

O Acordo de Cooperação tem como objetivo principal, a realização dos estudos sobre a qualidade do ar e a avaliação dos efeitos dos programas ambientais e das tecnologias energéticas, divididos em quatro projetos:

  • Modelagem atmosférica
  • Laboratório Móvel
  • Impacto de teor de biodiesel
  • Ônibus elétrico

Na primeira etapa, realizada através de um termo de Cooperação entre a Petrobras, Lactec, IAG e UTFPR e concluída em 2016, foram realizadas modelagens atmosféricas a partir de medidas de emissões com diferentes combustíveis em veículos representativos da frota, como motocicletas e carros a diesel, além de analisar as concentrações de poluentes primários como dióxido de Carbono (CO²), dióxido de Enxofre (SO²) e o de Nitrogênio (NO²). Com base nos resultados obtidos, foram calculados fatores de emissões médias para os principais poluentes para a frota, mas também houve a necessidade de novos estudos para o aprimoramento das modelagens e estudos, dando continuidade ao projeto com a criação da estação meteorológica móvel.

Os primeiros testes com o Lumiar foram realizados no Observatório Abrahão Moraes do IAG, localizado em Valinhos (interior de São Paulo). Ao comparar com os dados da Cetesb, quase não houve diferença entre os resultados relacionados ao material particulado, com resultados satisfatórios. O Lumiar será usado para dar continuidade ao projeto e maior número de medições da qualidade do ar, com os dados sendo enviados via sinal de celular para o CEMTEQ (Centro de Monitoramento do Tempo e Qualidade do Ar), coordenado pelo LAPAt (Laboratório de Análises de Processos Atmosféricos), ambos no IAG. “Quando olhamos para a rede de Monitoramento da qualidade do ar da Cetesb, embora tenha uma rede excelente, ela está concentrada nas áreas urbanas, nas cidades. Não existe um monitoramento fora ou entre cidades. Então, nós sabemos o que acontece no domínio da área urbana mas não o quê ocorre nas outras regiões”, diz Edmilson.

Dados enviados pelo Lumiar chagam à sede do CEMTEQ via sinal de celular. Foto: Beatriz Cristina

“A gente tem esperança de que esse laboratório produza informações para que, aí sim, ocorra novas pesquisas, estudos e desenvolvimentos para o benefício da sociedade. Porque uma das características básicas desse programa é que todos os produtos que são financiados com recursos de pesquisa e desenvolvimento, ou seja, vindos da própria sociedade, visam dar as informações à sociedade”, completa Cláudio Akio Ishihara, diretor do Departamento de Combustíveis Derivados de Petróleo, do Ministério de Minas e Energia. 

 

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