Bactérias redutoras são capazes de reciclar ferro

Pesquisadora propôs nova forma de recuperar o ferro utilizado como coagulante nas estações de tratamento de esgoto

Esgoto despejado no rio Pinheiros | Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Durante o tratamento de esgoto, na etapa de coagulação, uma substância química (sal de ferro ou alumínio) é utilizada para ajudar a formar flocos de partículas suspensas presentes nas águas residuárias. Esse lodo decanta, é separado e posteriormente descartado. Julia Helena Ortiz, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, desenvolveu em sua tese de doutorado um procedimento para recuperar o ferro utilizado nesse processo.

Sua proposta baseou-se na utilização do cloreto férrico (FeCl3) como coagulante para que, a partir da ação de bactérias redutoras, fosse possível reciclar o ferro. Esses microrganismos utilizam esse composto como aceptor final de elétrons, convertem Fe3+ em Fe2+ ー que fica no estado solúvel ー além de degradarem a matéria orgânica presente no esgoto. Por estar dissolvido na água, é possível oxidá-lo para Fe3+ novamente utilizando oxigênio e assim reutilizá-lo como coagulante.

Para a pesquisa foram utilizadas amostras de água residuária do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP). Após a coleta, o cloreto férrico era aplicado havendo a formação dos coágulos, que decantavam.  Como as bactérias redutoras de ferro já estavam presentes na água, esperava-se aproximadamente 60 dias para a coleta do sobrenadante e quantificação do ferro. Por último, era feita a oxidação do mesmo e uma nova aplicação como coagulante. Todos os ensaios foram muito satisfatórios.

Etapas do tratamento de esgoto. A coagulação ocorre na etapa de condicionamento químico do lodo | Foto: Sabesp

Essa proposta é muito vantajosa do ponto de vista ambiental, porque “quando você usa o alumínio ou o ferro, eles vão para esse sedimento e também são jogados fora”, explica a pesquisadora. Entretanto, a viabilidade econômica é um dos impasses. Primeiro, o alumínio é relativamente mais barato que o ferro, mas não existem bactérias que consigam recuperá-lo. Além disso, o grande problema concentra-se na taxa de recuperação do ferro, que gira em torno de 58%, e no custo para reciclá-lo nesse contexto.

Julia reforça a importância de se levar em conta o meio ambiente. Sua pesquisa provou ser possível reduzir o impacto ambiental, diminuindo o uso de um composto de alumínio que não é reciclado por outro que é, e que também é menos tóxico. “Às vezes sai mais caro reciclar do que simplesmente produzir de novo. Só que a questão ambiental está reduzindo-se um lixo. Aí entra essa importância: o que é mais relevante? O dinheiro ou o impacto para o ambiente?”, pondera.

A saúde também é um fator que deve ser levado em consideração, pois a sociedade, de uma forma geral, não dá a importância que deveria para o tratamento de águas residuárias, dado que esgotos podem gerar doenças na população.

Como perspectiva futura, a pesquisadora comenta sobre a possibilidade de selecionar microrganismos e fazer uma modificação genética com o objetivo de fazê-los converter mais ferro e criar condições para que seja possível aplicar essa metodologia em grande escala de maneira viável.

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