Obeso mórbido tem pior produção de espermatozoides

Casos dos que fizeram cirurgia bariátrica recentemente apresentam piora ainda maior.

Foto: Reprodução/ Retirado de https://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2016/04/vida/t Espermatozoide, em imagem de microfotografia reconstituída digitalmente

Pacientes com obesidade mórbida apresentaram espermatozoides em menor quantidade e qualidade do que pessoas saudáveis, além de um desequilíbrio em hormônios sexuais, segundo pesquisa para doutorado na Faculdade de Medicina da USP. Por outro lado, pacientes que realizaram cirurgia bariátrica obtiveram piores resultados quanto aos espermatozoides, seis meses após a operação, que aqueles que não fizeram o procedimento, apesar de registrarem melhorias nos resultados hormonais.

O estudo contou com duas fases e 74 participantes, entre obesos e não obesos. A primeira etapa analisou os dados dos pacientes em um só momento, ou seja, utilizou o método do “corte transversal”, para comparar pacientes com obesidade mórbida a pessoas saudáveis em relação à capacidade reprodutiva. Para isso, os instrumentos adotados foram o espermograma (para observar a quantidade, a mobilidade e o formato dos espermatozoides), a fragmentação do DNA espermático (para verificar a integridade do material genético carregado pelo espermatozoide) e a avaliação hormonal.

As figuras apresentam defeitos que espermatozoides podem apresentar na morfologia (formato) – (A) na cabeça, (B) no pescoço e parte intermediária, (C) na Cauda e (D). Citoplasma residual em excesso. Fonte: Manual de laboratório da Organização Mundial de Saúde – reprodução parcial. Para saber mais (p. 83)

Já nessa primeira etapa, os resultados mostraram que os obesos tinham menor taxa total de testosterona em relação aos não obesos. Nas palavras do urologista e autor da tese, Guilherme Wood, a redução desse hormônio pode prejudicar “tanto a produção de espermatozoides, quanto outros fatores, como a libido e o ânimo para realizar atividades do dia-a-dia”. A própria gordura é responsável por parte da redução da testosterona, porque o tecido adiposo — majoritariamente composto por células de gordura e, logo, presente em maior proporção nos obesos —  converte a testosterona, produzida nos testículos, em estradiol, um hormônio feminino.

Outros hormônios sexuais (LH e FSH) foram apresentados em maior taxa por pessoas obesas, o que sugere que “a função testicular não está trabalhando bem”, segundo o médico. Além disso, quanto à análise do material ejaculado, coletado por masturbação, verificou-se que os espermatozoides dos obesos eram, em todos os parâmetros (quantidade, mobilidade, formato e integridade do material genético), inferiores às dos não obesos. Por conta disso, uma possível fecundação teria menores chances de acontecer.

 

A segunda fase da pesquisa acompanhou os dados dos pacientes durante certo tempo, ou seja, foi um estudo “prospectivo”. Para essa etapa, homens obesos foram comparados a homens que fizeram cirurgia bariátrica no período de seis meses após o procedimento.

A questão hormonal, bem como a diabetes e a pressão alta, melhora rapidamente após a operação. Mas existe a piora dos espermatozoides —  por exemplo, na queda de concentração de espermatozoides no esperma à metade da quantidade anterior.

Sobre isso, o pesquisador explica: “Os primeiros seis meses são o pior período do pós-operatório.  Os pacientes perdem 40, 50 quilos nesse intervalo. Então eles são quase desnutridos; estão perdendo peso muito rapidamente”. Ele continua: ”Apesar de estarem ficando mais saudáveis”, como o apontado pela melhora nas outras áreas, “talvez haja a piora dos parâmetros seminais por falta de nutrientes, já que o organismo deles não está aceitando os alimentos totalmente, ele ainda não se regulou”.

Objetivo futuro e limitação

Wood imagina que, passada essa fase inicial de adaptação, o padrão dos espermatozoides possa melhorar. Mas, apenas com esse estudo, não é possível dizer o que aconteceria a prazos maiores. Por isso, um desejo futuro do pesquisador é o de investigar como evolui a situação dos espermatozoides depois de um ou dois anos da operação.

Houve outro aspecto do estudo atual do urologista que ele considerou como limitação “O estudo não foi randomizado. Para ser, seria necessário, dentro de um grupo de pacientes obesos, sortear os que operariam e os que não. Mas não é muito aceitável eticamente dizer para o paciente que vai sortear se ele vai fazer a cirurgia.”

O critério para separar, na amostra de obesos, os que fariam parte do grupo que seria operado foi a própria fila do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, em que todos aguardavam o procedimento. O pesquisador, tendo acesso a essa ordem, contatou aqueles que seriam operados antes para compor o grupo que teria acompanhamento na pós-cirurgia. E aqueles que não seriam chamados pelo HC tão cedo foram parte da amostra de controle da segunda fase, ou seja, de obesos que permaneceram na mesma condição no decorrer da pesquisa.

Aconselhamento

O pesquisador ressalta que a cirurgia bariátrica traz muitos benefícios: “Não desejo que os pacientes achem que a cirurgia bariátrica fará mal para eles. Dá para considerar hoje que ela é o melhor tratamento para pacientes obesos mórbidos. O tratamento clínico, ou seja, com medicação e exercício físico é muito pouco eficaz nesses casos. Para a saúde geral desse paciente, a cirurgia bariátrica é muito boa”.

Ele continua dizendo que aconselhar bem o paciente em relação à realização do procedimento é o mais importante. No caso dos que ainda têm o desejo de ter filhos, o especialista pode, por exemplo, propor o congelamento de sêmen antes da cirurgia bariátrica.

Quem deve se beneficiar mais com o estudo é o paciente obeso, tanto em relação aos resultados sobre fertilidade, quanto em relação aos hormônios, vinculados ao bem-estar e à vida sexual do homem.

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