Tratamento com fisioterapia evita condenação de cães à eutanásia

Após graves lesões medulares, animais ainda possuem chances de melhora sem necessidade de intervenção cirúrgica

Cão em cadeira de rodas | Foto: Site Walkin’ Wheels

Visando a melhoria na qualidade de vida dos animais, Miriam Caramico, pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), trabalhou na reabilitação de animais que perderam os movimentos devido à lesão intervertebral de grau V, considerada a mais grave, utilizando apenas ferramentas da fisioterapia. Resultados positivos comprovam a possibilidade de recuperação sem necessidade de acupuntura, cirurgia ou outras medidas.

O trabalho foi realizado com 20 cães, dentre os quais 12 (60%) voltaram a andar. Os resultados foram alcançados após um ano e meio de pesquisas, contando com uma heterogeneidade de casos, ou seja, havia desde animais que perderam os movimentos duas semanas antes e outros com até seis meses de paralisia. Com isso, foi possível concluir também que a reabilitação está conectada com o tempo. “Foi visto também no trabalho que, quanto mais demora para começar, mais difícil é para reabilitar. O ideal é partir logo para a reabilitação, porque os animais que estavam com duas semanas [de paralisia] apresentaram resultados mais rápido”, explica a pesquisadora.

Miriam acredita que, com tais respostas, outros proprietários não desistirão do tratamento de seus animais. Diversas vezes, no momento em que ocorre a perda da sensibilidade das patas traseiras, esses são submetidos à utilização de uma cadeira de rodas específica, a viver se arrastando ou, na pior das hipóteses, são condenados à eutanásia.

Representação de cães que recuperaram os movimentos das patas traseiras. Proporção de 60%. | Imagem: Carolina Fioratti

Entre as circunstâncias que podem levar a perda dos movimentos, têm-se os tumores, fraturas, doenças degenerativas, doenças infecciosas e a hérnia de disco, estudada por Miriam. Há então a necessidade de se realizar exames diferenciais, que seriam a radiografia da medula espinhal (mielografia), tomografia do espaço entre as meninges (mielotomografia), ressonância magnética e, em alguns casos, sorologia para saber se é um caso infeccioso ou não.

Apesar dos resultados positivos, a fisioterapia não deve ser vista como o primeiro método a se recorrer. Logo que a perda dos movimentos pelos animais ocorrer, deve-se fazer ressonância ou tomografia. A indicação inicial continua a ser cirúrgica, para retirar do disco o material que está causando a compressão, e, em seguida, realizar a reabilitação.

“Mas, se por algum motivo, esse animal não puder ter feito a cirurgia pois é muito velho, a pessoa não tem condições financeiras ou na região não há ninguém que faça a cirurgia, é possível fazer o animal ter qualidade de vida e voltar a andar só com reabilitação, só com fisioterapia”, completa a veterinária.

Na reabilitação por meio da fisioterapia, são utilizados diversos métodos. Têm-se o tratamento através de exercícios denominado cinesioterapia. Há também a fotobioestimulação, que auxilia na regeneração neurológica através do uso de laser e ajuda na diminuição da dor. Além desses, faz-se uso de aparelhos de eletro estimulação, os quais podem ajudar no fortalecimento muscular ou causar perda da sensibilidade à dor (analgesia). Por fim, faz-se a recuperação por movimentos repetitivos dentro d’água com uma esteira aquática chamada hidroterapia.

Ademais, há a importância de realizar exercícios de repetição, pois com isso, causa-se a neuroestimulação para obter uma maior capacidade de adaptação do sistema nervoso (neuroplasticidade) e fazer com que o organismo do cão se lembre sobre como é andar. Os proprietários devem realizar exercícios diários em casa, os quais são indicados pelo médico veterinário. São recomendados os movimentos de “pedalar”, como se estivesse em uma bicicleta, a escovação, entre outras atividades que estimulem as estruturas neurológicos táteis e auxiliem no processo de recuperação.

Caso seja possível associar a reabilitação a medicinas complementares como acupuntura, tratamento com ozônio, entre outros, os resultados poderão ser ainda mais efetivos. Miriam diz que planeja fazer outros trabalhos comparativos e que no instituto de Pirassununga, já existe um grupo de estudos realizando comparações com o uso de células tronco e acupuntura, tendo a fisioterapia apenas para fins comparativos.

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