Odontologia legal usa dentes para estimar idade de crianças e adolescentes

Método sueco pode ser aplicado à população brasileira e auxilia profissionais na identificação de vítimas em processos civis e criminais

Odontologia legal é área crescente e fornece apoio a processos jurídicos [Imagem: Departamento Médico-Legal]

Os dentes podem revelar muito mais do que aparentam. Esse é o papel da odontologia legal, que busca auxiliar a justiça por meio de perícias dentárias. Um estudo realizado na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) busca facilitar o processo de estimativa de idade de crianças e adolescentes através do estágio de mineralização dos dentes. A pesquisa, comandada por Eduardo Novaes Benedicto, aplicou três métodos desenvolvidos com populações de outros países a uma amostragem brasileira, e tomou o modelo sueco de Liliequist & Lundberg como o mais condizente com a realidade do País.

Principal base de definição para idade fisiológica humana, o processo de mineralização dentária consiste no grau de maturação dos tecidos que compõem a estrutura dos dentes permanentes. A análise é feita por meio de radiografias panorâmicas e indicativos pré-estabelecidos. Além do método de Liliequist & Lundberg (1971 – Suécia), foram avaliados também os de Haavikko (1974 – Finlândia) e Mornstad et al (1994 – Suécia), que se mostraram mais trabalhosos e menos confiáveis, apesar de ainda aplicáveis. O método de Liliequist & Lundberg avalia todos os dentes permanentes inferiores do lado esquerdo, com exceção do siso e classifica-os de acordo com os oito estágios de mineralização definidos pela técnica. “Ao final, estes números são somados e o resultado da soma é encontrado em uma tabela que estima a idade do indivíduo de acordo com o valor obtido”, explica o pesquisador.

Imagem ilustrativa dos oito estágios de mineralização de dentes multirradiculares (acima) e unirradiculares (a baixo) definidos pelo método de Liliequist & Lundberg

Identificados os dentes, cada um é classificado e recebe uma pontuação individual denominada escore (0; 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 6). Originalmente, os sete escores eram somados e o número obtido comparado a uma tabela que fornecia uma faixa de idade no qual o indivíduo era enquadrado, levando em consideração o sexo biológico. Entretanto, um estudo feito posteriormente por Hägg e Matsson estabeleceu uma nova tabela de referência que determina linearmente a idade do indivíduo. Aumentando a precisão do método.

A estimativa de idade é um dos primeiros passos para a identificação de seres humanos, e essa diferenciação entre populações torna a validação dos métodos, e a criação de fórmulas de regressão que visam adaptá-los ao contexto nacional, em um passo essencial para o avanço e eficácia da odontologia legal. Segundo o pesquisador, em algumas perícias, a estimativa da idade da pessoa era prejudicada porque a maioria dos métodos – em especial aqueles que se baseiam no estágio de mineralização dos dentes – foram criados com base em povos distintos do nosso. “As populações originais dos estudos – suecas e finlandesa – tem características completamente diferentes da nossa. São mais homogêneas em comparação com a brasileira, devido a miscigenação histórica que aconteceu em nosso país”. A validação dos métodos, dessa forma, é fundamental para que possamos verificar a aplicabilidade de uma metodologia criada especificamente para uma população, em uma outra diferente da original.

Com base nisso, Eduardo destaca a facilidade de aplicação demonstrada pelo estudo “O método de Liliequist & Lundberg pode ser aplicado na população brasileira com agilidade e confiança”, declara. Para isso, é necessário classificar os estágios dos dentes e inserir os valores na fórmula criada, diminuindo a complexidade e o tempo de obtenção dos resultados. Além de uma ótima alternativa para a população brasileira, o método ainda mostrou-se superior aos demais por sua agilidade, característica essencial aos profissionais da área. “Esta pesquisa permite que um profissional, em geral um médico-legista, odonto-legista ou antropólogo forense, que precisa estimar a idade de uma pessoa, seja ela viva ou falecida, possua uma ferramenta a mais à sua disposição”, conclui o pesquisador.

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