Teste sorológico diferencia diagnóstico de Zika vírus e dengue

Tanto a dengue como a zika são transmitidas pelo Aedes aegypti. São doenças imunologicamente muito parecidas | Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O surto de Zika que começou no Brasil há alguns anos surpreendeu tanto a população como a classe científica do país, principalmente em decorrência dos casos de microcefalia. Luís Carlos de Sousa Ferreira e Edison Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, desenvolveram pesquisas referentes ao vírus na área de vacinas e diagnósticos.

Um dos principais problemas na identificação de pacientes que contraíram zika é a sorologia cruzada com a dengue, já que ambos são imunologicamente muito parecidos. “Em um país como o nosso em que a dengue é endêmica, ter um diagnóstico de zika que não cruze com dengue é muito difícil”, comenta Edison.

A sorologia procura identificar e medir os anticorpos que estão no sangue e são específicos de cada doença adquirida por uma pessoa. O vírus da dengue e da zika, embora causem doenças muito diferentes, são muito semelhantes na sua estrutura e os anticorpos que são gerados contra um, parte deles (não todos) reconhecem o outro. Edison explica que quando um indivíduo com zika faz teste para sorologia de dengue, dá positivo. O mesmo acontece quando uma pessoa contraiu dengue e faz teste para zika, dos que estão no mercado atualmente. A pesquisa teve como objetivo desenvolver um método que conseguisse diferenciar o diagnóstico dessas enfermidades.

O kit desenvolvido por Luís e Edison é capaz de identificar se o paciente contraiu zika, dengue ou ambos. A técnica utilizada chama-se ELISA (do inglês, Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) e se baseia na identificação de anticorpos e/ou antígenos por anticorpos marcados com uma enzima. A escolha por esse método, segundo os pesquisadores, levou em consideração a aplicabilidade e acessibilidade, já que não adiantaria utilizar um muito complexo ou inacessível. Esse método pode ser feito em qualquer hospital e laboratório clínico.

Para além de identificar e diferenciar as doenças, o outro lado da pesquisa buscou desenvolver uma vacina para o Zika vírus. Luís Carlos explica que essa vacina está em fase adiantada. O grande alvo seriam as gestantes, que poderia utilizar esse recurso para se prevenirem da infecção durante a gravidez, evitando assim riscos de microcefalia do bebê.

As pesquisas desenvolvidas tanto para o kit de diagnósticos quanto a vacina tiveram como objetivo trazer resultados práticos para a população. Segundo Luís, “são conquistas mais aplicadas onde a população pode dispor de algum benefício gerado a partir do conhecimento científico que conseguimos levantar”. Ele também salienta que são grandes exemplos de como o conhecimento científico gerado na academia pode se transformar em um produto que beneficie toda a sociedade.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*