Eclipse de Sobral comemora seu centenário

Evento astronômico ajudou na comprovação da Teoria da Relatividade

Foto: Observatório Nacional

Em 2019 é comemorado os 100 anos do eclipse solar total ocorrido na cidade de Sobral (CE), em 29 de maio de 1919. O fenômeno foi um dos mais longos eclipses solares do século 20, com uma duração máxima de 6 minutos e 51 segundos, e ajudou Albert Einstein na comprovação da Teoria da Relatividade. Durante o mês de maio, o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG) realizou um evento para discussão do evento histórico. Dado isso, o professor titular do IAG, José Ademir Sales de Lima redigiu o artigo A fama de Einstein e a experiência de Sobral – 100 anos do desvio gravitacional da luz, apontando a sua importância para os dias atuais.

Eclipse solar total de Sobral (CE). Foto: F. W. Dyson; A. S. Eddington e C. Davidson/ Wikipédia Commons

O fenômeno ocorreu alguns anos depois da elaboração da famosa teoria de Einstein. O cientista havia anunciado, em 1905, que a massa dos corpos deforma a malha do espaço-tempo, de modo que a luz próxima acaba sofrendo um desvio: “O efeito físico procurado era o desvio da luz das estrelas ao passar próximo ao Sol, o que só poderia ser observado durante um eclipse total. Naquele ano, os cálculos dos astrônomos indicaram a existência de dois sítios perfeitos para observação desse fenômeno”. Para a confirmação da teoria, duas expedições científicas financiadas pela Royal Astronomical Society partiram em direção às localidades, sob a direção do astrônomo Andrew Cromellin (para Sobral) e do astrofísico Arthur Eddington (para a ilha do Príncipe) “O primeiro situado nos céus do Brasil, mais precisamente na cidade de Sobral, localizada no sertão do Ceará; na época com cerca de 2.000 habitantes. O segundo na ilha do Príncipe, localizada na costa atlântica da África, nas proximidades da Guiné Equatorial”, explicou Lima.

Esquema mostra como ocorre a curvatura da luz. Crédito: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Durante a observação, o grupo composto por astrônomos e fotógrafos utilizaram, sucessivamente, várias chapas fotográficas em câmeras acopladas a telescópios, a fim de registrar a posição das estrelas que estivessem próximas à borda solar. Posteriormente, essas fotos foram comparadas a chapas parecidas, tiradas três meses depois, durante a noite, e a conclusão foi a de que Einstein estava certo: a luz percorre realmente uma curvatura. “Para se ter uma ideia da consagração, é suficiente saber que, a partir de 1919 até a sua morte, em 1955, Einstein foi notícia todos os anos no New York Times, falando não apenas sobre ciência, mas também sobre política, filosofia e religião”, completa.

A cidade cearense acabou apresentando a maior visibilidade: “De fato, os nevoeiros presentes no sítio escolhido por Eddington prejudicaram a tal ponto o resultado das medidas que não seria possível afirmar com certeza a validade da teoria de Einstein”. Além disso, há a importância no evento tanto para o entendimento da Física quanto para a região. Einstein previu que os cálculos realizados deveriam ter uma diferença de 1,75 segundo de arco, enquanto a de Isaac Newton previu um número bem menor, de 0,86 segundo, em 1616. Um segundo de arco equivale ao tamanho de uma estrela a olho nu, enquanto os cientistas que vieram à Sobral conseguiram medir através do eclipse um desvio de 1,98 segundo, valor bem próximo da previsão teórica inicialmente levantada por Einstein.

resultado de Sobral claramente mostrava que a teoria iniciada por Newton não poderia explicar a magnitude do efeito observado. Embora involuntariamente, o semiárido nordestino dava a sua importante contribuição para o desenvolvimento da ciência.

No vídeo, é possível conferir o eclipse solar total simulado no Celestia, um sistema de licença livre:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*