Celulares geram anseios nas relações sociais em aula

Professores enfrentam desafios em sala de aula ao tentar conciliar instrumentos digitais ao conteúdo proposto para os alunos

Giovanna Cornelio | Pixabay

A crescente presença de instrumentos tecnológicos no momento atual, causa a desestabilização de muitos professores na relação com os alunos em sala de aula. O professor se vê em um terreno muito fragilizado ao conciliar esses novos instrumentos com o conteúdo proposto. A fim de investigar esses receios em analogia à ideia de trem-fantasma, brinquedo que gera medo, Paulo Rogério Borges fez disso a sua tese de doutorado na Faculdade de Educação da USP.

O pesquisador relata que está ocorrendo, de fato, uma mudança no comportamento social devido às tecnologias. “Inclusive, a gente tem hoje catalogado como doença, esse processo de individuação: pessoas que ficam muito tempo na internet e acabam deixando as relações diretas e pessoais”. Apesar disso, reconhece o quanto os avanços tecnológicos têm trazido vantagens para a população, possibilitando conversas com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, a um custo acessível. 

Borges trabalha no estudo com a teoria geral do imaginário, que é a ideia de que tudo aquilo que se tem no mundo, palpável ou não, foi um dia imaginado pelo ser humano. Isso porque, a humanidade cria situações porque são os únicos seres conscientes do envelhecimento e da morte. “Diante dessa realidade funesta, o homem cria coisas para amenizar a passagem dele aqui em vida. Então, para diminuir um pouco dessa angústia ele vai criando histórias, imagens.”

Como o principal universo do pesquisador é a educação, houve entrevistas com funcionários de escolas e de parques de diversões. “Há um certo saudosismo do pessoal mais adulto com a ideia do parque. Com a forma de diversão, do tipo de relação entre as pessoas”. Ele conta que os professores, principalmente, sentem uma perda com esses aparelhos tecnológicos e que ainda é difícil lidar com os equipamentos em sala de aula, devido a uma nova geração em uma era totalmente digital que não vê um porquê de se escrever quando tirar uma foto é muito mais simples.

Reprodução: Os Simpsons

Como um dos pontos mais relevantes no processo de investigação, Paulo percebeu que não houve uma mudança na relação da pessoa com o medo por causa das tecnologias. Tendo como base a teoria geral do imaginário, notou que as aflições se mantém. “Essa imersão no mundo virtual não tem melhorado essa angústia de que o homem vai envelhecer e morrer. Essa angústia existencial ainda permanece.” 

A ideia foi investigar, a partir dessa metáfora do trem-fantasma, quais medos estão orbitando nas escolas com esse avanço tecnológico. “Nessa nova realidade, os alunos têm mais domínio do que o professor, referente a esses recursos”, diz o estudioso. Isso acaba criando embates, pois o aluno tem mais acesso à informação do que a apresentada pelo professor em sala de aula, e de forma mais rápida. 

Na opinião do pesquisador, o professor deve ser aquele que media a relação do aluno com a informação: “Quais as melhores fontes, como selecionar, como ter uma visão crítica diante dessa informação que o aluno está pesquisando, como tratá-la”. Ele sugere ainda que o profissional aceite que a tecnologia está cada vez mais presente nas escolas e não veja o aluno como um adversário. 

Em sua função de coordenador pedagógico, na capacitação de professores, trata do celular como instrumento didático. “Vamos ensinar os alunos a criarem um blog”. Ele orienta os professores a trazerem mais o celular para sala de aula com uma função didática e pedagógica para desmitificar a figura do celular como vilão.

Assim como no trem-fantasma, relata Paulo, o carrinho parte, dá uma volta pelo interior do brinquedo, “você vai ter medo, susto, surpresas, vai estar no escuro, mas você no fundo sabe que daqui a pouco vai estar de volta a luz.” O intuito é trazer isso para os professores. “Olha, esse momento que você está passando, de escuridão, cegueira, susto, medo não é permanente. Uma hora a luz aparece”, declara o pesquisador.

1 Comentário

  1. Gostei bastante da matéria. Essa é uma realidade que vivemos diariamente na sala de aula. A minha preocupação com os celulares é que os alunos pouco buscam conhecimento. Eles só buscam informações rápidas e nem sempre relevantes. Fora que, normalmente estão usando pra jogar ou em redes sociais.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*