Resultados do Google mostram informação insuficiente sobre cesáreas

Pesquisa que une comunicação e saúde pública mostra que buscadores atrapalham o acesso à informação clínica de qualidade

Nos buscadores disponíveis, nem sempre a informação é de qualidade - Foto: Reprodução

Quem pesquisa sobre cesárea em buscadores tradicionais da internet pode não encontrar o conteúdo da melhor qualidade. Se digitar outras variações da palavra, a precisão é menor ainda. Isso porque os algoritmos nem sempre mostram o que você precisa, mas o que procura. E, entre tantos sites e portais disponíveis, nem tudo é confiável. 

E há variações entre as buscas do Google. A grafia certa, “cesárea”, está atrás de “cesária” nas pesquisas – um acesso rápido à ferramenta de análise de dados Google Trends comprova isso. O problema é que, ao errar a grafia, a usuária recebe conteúdos menos confiáveis em sua página de resultados.  

“Há riscos para a mãe e o bebê também. E grande parte do conteúdo encontrado induz a mulher a optar pela cesariana. Os riscos são invisíveis na internet”, resume Beatriz Fioretti-Foschi, que uniu seu conhecimento em comunicação e interesse em saúde pública na tese Dando um Google na qualidade das informações sobre cesárea, para leigos, no Brasil em 2018. 

Para ser considerada de qualidade, a informação clínica e destinada a pessoas não envolvidas na área médica deve apresentar todos os lados de um procedimento. E a cesárea, uma cirurgia complexa, não é exceção.

Evolução de dados

Há seis anos, ela pesquisou a qualidade das informações relacionadas ao parto cesariano nos principais buscadores do País – como os Googles em português e inglês, Yahoo! e Bing. Os tempos mudaram – “o tema ganhou força no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Saúde e decidi analisar se, em 2018, os resultados sobre a cesárea tinham melhorado.”

A pesquisadora se baseou na revisão sistemática, um trabalho comum na área de saúde que consiste em observar “o maior número de base de dados possíveis”. Ela decidiu inovar: sua base bibliográfica foi a internet. “Usei o mesmo rigor metodológico, mas em outra plataforma”, explica.

A pesquisa começou com 26 palavras-chaves sobre cesárea em cinco buscadores diferentes. Tantas opções são necessárias porque buscadores são sensíveis a erros de ortografia e apresentam links diferentes para cada palavra – como é o caso de “cesária” e “cesárea”. Depois, Foschi descartou alguns sites a partir de critérios de exclusão, como repetições ou páginas comerciais. Posteriormente, o que entrou na amostra foi analisado sobre outros 80 pontos.  

A cesárea virou notícia com o projeto de lei 435/2019, da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP). O projeto permite que a mulher escolha o modo de parto – normal ou cesariano – no SUS paulista, mesmo sem a necessidade médica de optar pela cirurgia. A pesquisadora tem dúvidas do quão seguro é deixar essa responsabilidade nas mãos de quem se informa principalmente pela internet.

“Precisamos promover boa informação. Se existem resultados duvidosos, até que ponto a mulher pode optar sem esclarecimento?”, opina Beatriz, que notou falta de esclarecimento sobre o lado não tão vantajoso da cesárea em sites. 

O Google brasileiro, buscador mais popular do País, ofereceu só 40% da amostragem nas páginas analisadas por Beatriz. O que mostra que, numa pesquisa rápida e sem atenção, é possível se perder em páginas com conteúdo incompleto. “Para a mulher interessada no assunto, vale a pena buscar em outros buscadores”, conclui a pesquisadora. 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*