Institutos de Física e do Butantan trabalham no desenvolvimento de uma tríplice vacina oral

Pesquisadores utilizam sílica para fazer vacinas que permitam inoculação oral

A vacina de gotinha é conhecida por todo o Brasil (imagem: reprodução do site polioeradication.org)

A vacinação é um dos mecanismos mais eficientes e importantes quando se trata da defesa do organismo humano e imunização. Por mais de 15 anos, pesquisadores do Instituto de Física da USP e do Instituto Butantan vêm pesquisando formas de produzir as vacinas popularmente conhecidas como vacinas “de gotinha”.

A pesquisa começou em 2004, através do contato da professora Márcia Fantini, do IF, e o pesquisador Osvaldo Sant’Anna, do Instituto Butantan. “Não existe doença erradicada, existem doenças controladas. Elas são apenas controladas por causa da vacinação, os vírus e bactérias estão por aí, a doença não se manifesta porque temos anticorpos, formados pela vacinação” explica a professora. 

Apesar de ser menos eficiente que a vacinação injetável, a vacinação por via oral traz muitos benefícios. Márcia Fantini, doutora em física pela Unicamp, seus estudos têm ênfase em Cristalografia e Estrutura em Líquidos e Sólidos. 

A professora Márcia Fantini explica a ação da Sílica
(Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Ela explica que, além do desconforto da injeção, o custo com materiais é bem menor. “O antígeno tem que passar por todo o sistema gástrico sem ser destruído pela acidez do estômago. A maneira que encontramos para fazer com que isso aconteça foi proteger o antígeno”. 

Um dos grandes méritos da pesquisa foi encontrar um material que conseguisse dar essa proteção contra a acidez. O óxido de silício é um material que não é nocivo nem tóxico. “Chamamos o óxido de silício de sílica, é como uma areia cheia de buraquinhos. Nós colocamos o antígeno lá e ele protege até a chegada no intestino”, completa. 

Márcia ainda explica que o material pode ser comparado como uma pasta americana de bolo. A pasta, que seria a sílica, envolve a massa do bolo, o antígeno, e a protege até a chegada no intestino.

No início do ano, o grupo de pesquisa descobriu a possibilidade da vacina oral contra a hepatite B. Atualmente estão focados em estudar proteínas modelos, para entender como o sistema reage para formas diferentes de encapsulação de antígenos. 

“No momento estamos trabalhando para produzir vacinas contra difteria e tétano. Nossa ideia é fazer uma polivacina por via oral. O nosso objetivo fundamental é nunca mais depender de vacinas injetáveis” conta a professora. 

A pesquisa está em fase de testes e a equipe conta com químicos, físicos, farmacêuticos e biólogos. Márcia explica que o trabalho multidisciplinar foi fundamental para as descobertas anteriores e é necessário para o alcance de novos resultados: “a Física consegue identificar, por exemplo, como o antígeno está distribuído dentro da sílica. Essas ferramentas são essenciais para compor o trabalho da biologia e da química”.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*