Insuficiência renal crônica não afeta procedimento odontológico

Pesquisa mostra que, apesar de dificuldades relacionadas à doença, profissionais podem realizar extrações dentárias normalmente

Ilustração: Mariana Cotrim

Há na literatura estudos que comprovam como portadores de Insuficiência Renal Crônica (IRC) possuem dificuldades em relação a vários procedimentos médicos, inclusive na área da saúde bucal. Pensando nisso, Natália Silva dedicou sua tese de doutorado à análise de como tais pacientes toleram uma extração dental. Nessa pesquisa, ela concluiu que pessoas com IRC podem, sim, realizar uma exodontia e não obter complicações futuras.

A importância da pesquisa vai um pouco além da área de odontologia. Isso porque, segundo Natália, nesses casos, “o dentista realiza uma extração de dente em um paciente desses e acompanha quais são as possíveis complicações que acontecem com essa extração tanto no que diz respeito a complicações infecciosas ou complicações hemorrágicas”. Quando alguém possui insuficiência renal, a hemodiálise é necessária mais de uma vez na semana. Para que o procedimento seja feito, é preciso que haja uma abertura para filtrar o sangue, normalmente o catéter. Este seria uma porta de entrada e saída. “Essa porta aberta pras infecções leva esse indivíduo ser mais suscetível, especialmente a uma infecção que chamamos de endocardite bacteriana.”

A endocardite bacteriana, que afeta o coração, também está relacionada a uma infecção no dente. Em 15% dos casos, o micro-organismo causador da doença também pode ser encontrado na região da boca, o que aumenta o risco de se contrair a doença quando é feito um procedimento odontológico.

Ilustração: Mariana Cotrim

Outro problema é o uso de anticoagulantes e do ácido acetilsalicílico, algo frequente em pacientes com IRC. “Para passar o sangue na máquina da hemodiálise, o paciente recebe a heparina e ela vai fazer com que, quando esse paciente sofra algum corte ou trauma, como é a exodontia, ele pode sangrar mais do que o convencional.” 

Essas duas características, muitas vezes, deixam cirurgiões-dentistas apreensivos quando atendem pessoas com a condição. Natália, junto à tese, realizou uma segunda pesquisa para analisar o conhecimento de dentistas de São Paulo em relação a esses pacientes. Quando perguntado se sentiam-se confortáveis ao atender uma pessoa com a condição, a maioria das respostas foi “indiferente” e “um pouco desconfortável”. Disso, ela notou que havia um receio e, portanto, seu objetivo com o estudo era gerar informação e mostrar que é possível realizar a extração nesse tipo de circunstância normalmente, se tomadas todas as precauções.

No procedimento, foram extraídos dentes de 46 pessoas com a insuficiência renal e de 27 em outro grupo de controle. Natália ressalta que os procedimentos foram do tipo convencional, aquele em que o dente está fora da boca (erupcionado) e que é feito em um consultório, com anestesia local. Também não foi prescrito nenhum tipo de antibiótico. Após a extração, todos tiveram dois meses de acompanhamento. Com três dias, a pessoa retornava para que fosse avaliada as dificuldades pós-cirúrgicas; após sete dias os pontos eram retirados. Depois de 21 dias era analisado o estado da cicatrização da gengiva e, por último, após 60 dias, era feita uma radiografia final para visualizar a formação de osso na região afetada.

Natália constatou que nenhum dos pacientes contraíram infecções ou complicações após a cirurgia. No entanto, houve um detalhe a ser observado: durante o procedimento, 12 dos portadores de IRC precisaram de medicação para que o sangramento fosse controlado, um número considerável para ela. Dessa forma, a pesquisadora ressaltou que é possível atender essas pessoas em condições normais e a importância desse tipo de informação ser difundida entre cirurgiões-dentistas, afinal, o acesso a atendimentos na saúde é um direito de todos.

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