Novo método de ensino de química promove melhoras no desempenho dos estudantes

Pesquisadora do Instituto de Química da USP cria vídeos interativos para facilitar a visualização dos conceitos de eletroquímica

Créditos: reprodução Lígia Bozzi

No Brasil, química é uma matéria que comumente provoca dificuldades nos alunos. Em Maracanaú-CE, por exemplo, uma pesquisa realizada através de questionários na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Martins Filho demonstrou que, entre 91 alunos, 57 têm dificuldades em entender química e 79 dizem que a forma como o professor explica a matéria faz diferença para a aprendizagem. 

Pensando em uma didática diferente das maneiras tradicionais, uma pesquisadora criou uma nova forma de introduzir uma temática específica da química. “Sabemos que a química é uma matéria difícil porque explicamos o que vemos com o que não vemos, e ainda com uma linguagem não muito comum, uma linguagem química”, diz Lígia D’Ávila Bozzi, criadora do novo método. 

O tema escolhido para ser abordado diferencialmente foi eletroquímica. “Pilhas são consideradas de difícil compreensão, os alunos têm muita dificuldade em eletroquímica”. E como facilitá-lo? 

Vídeos interativos 

A partir daí, a professora decidiu por criar hipervídeos sobre o conteúdo: “Construímos vídeos interativos os quais os alunos acessam e podem ver uma experiência em tempo real. Eles ainda podem interagir com essa experiência em uma espécie de você decide”.

O principal ponto a ser considerado é que o aluno tem total independência para tomar suas decisões e entender suas consequências. Um exemplo dito na entrevista foi em relação aos impactos da ponte salina. “Uma das maiores dificuldades para um aluno é entender qual a influência dela numa pilha. Ele tem a opção ou não de colocar a ponte salina e ver o resultado. O vídeo muda o seu final dependendo de que caminho o aluno seguir, a começar que ele já segue desde do início escolhendo qual pilha ele quer simular”.

E não é só pela questão da prática que há benefícios no aprendizado. Os vídeos interativos também abrem porta para experimentos mais perigosos. “Muitos materiais são tóxicos, e usamos alguns deles nos vídeos para poderem ver a Diferença De Potencial, a DDP, que é gerada.”

Além disso, eles estão disponíveis de forma gratuita. Sabendo que não é barato fazer experiências, esse é mais um ponto positivo dessa dissertação de mestrado. “Muitos estudantes não têm laboratório no Brasil. Em diversos colégios públicos, falta certa infraestrutura e os alunos acabam não tendo acesso. Assim, é uma possibilidade dos alunos simularem um experimento no qual ele pode ver realmente o que acontece.”

Metodologia

Laboratório usado para a criação dos vídeos (Imagem: César Costa)

Todo o hipervídeo foi construído com base teórica, nos princípios da química, também da teoria multimídia. Para a criação dos vídeos, Lígia teve ajuda de uma pessoa com as gravações. Foram utilizadas cerca de 36 pilhas. “Nós colocamos uma câmera por cima do experimento, para ter uma visão total do que acontece e de cada passo que tomamos.”

A temperatura foi controlada da sala para se ter condições plausíveis e iniciou-se a gravação, por partes. Primeiro, a construção das próprias pilhas. E ela destaca: “Não representamos conforme é visto no material didático. Colocamos várias soluções e metais numa forma hexagonal e a ponte salina foi feita com uma solução estava bem no centro. Medimos de dois em dois pares”.

Junto ao projeto de Lígia, existe também a plataforma Laboratório Integrado de Química e Bioquímica, o Labiq, que foi uma ferramenta muito importante nesse momento. “Tudo foi juntado através do Labiq. Esse portal permite a construção de vídeo interativos. Fiz a interatividade para que, conforme o estudante tomasse suas decisões, ele acessava um frame diferente.” 

Além desse projeto de hipervídeo, há também outros recursos muito úteis dentro do Labiq. “É um site com várias ferramentas utilizáveis a benefício da educação. Por exemplo, é possível acessar moléculas tridimensionais, enquanto no papel você tem apenas a noção 2D. Há muitas moléculas de difícil visualização mas com o programa fica mais fácil.” 

Resultados  

Quando aplicado na prática, na escola em que Lígia Bozzi leciona, as consequências foram favoráveis: “A aplicação foi em um colégio no qual havia uma divisão do terceiro ano conforme o desempenho formal dos estudantes. Na sala com menor desempenho foi a que os alunos tiveram maiores proveitos do vídeo”.

A professora se impressionou com a diferença de evolução entre os estudantes. “Após utilizar os hipervídeos, apliquei um questionário que eles tiveram uma evolução no desempenho muito maior em relação aos que já obtinham um desempenho formal elevado.”

E além de melhorar em questões de resultados, também houve uma melhora em relação ao entendimento da matéria: “Eles conseguiram, por exemplo, associar conceitos com representações de imagens. Também fizeram várias suposições que antes, num pré-questionário, não eram feitas.”

Foi visto junto a tudo isso a melhora na forma como aluno lida com o tema. Ao invés de ficar numa superficialidade, apenas nos conceitos essenciais, ele se tornou mais capaz de propor outras representações melhores para aquele conceito de pilhas, o que é chamado de competência representacional pela professora.

Como acessar?

É possível ver os vídeos criados por Lígia clicando aqui. Se quiser acessar o Labiq e vasculhar o laboratório imersivo, clique aqui.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*