Hospitais que priorizam o atendimento tendem a ter mais prejuízo

Segundo pesquisa realizada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA), hospitais sem fins lucrativos podem apresentar grandes prejuízos caso optem pelo atendimento em detrimento da eficiência

(Foca-se tanto em atender os pacientes e sanar uma necessidade imediata, que se esquece do futuro - Crédito: Kantro)

Para o meio científico, uma área que ainda apresenta certa deficiência em termos de gestão é a do setor hospitalar, principalmente hospitais sem fins lucrativos. Este tipo de instituição está presente em grande parte do território nacional e pode ser classificado como beneficentes, destinado a uma determinada instituição de caridade, ou filantrópicos. 

Compreendendo essa demanda por mais pesquisas na área, a pesquisadora Joice Chiareto, que já estava inserida no meio hospitalar, desenvolveu uma dissertação de mestrado a fim de analisar o papel do Conselho Administrativo mediante o desempenho financeiro e operacional dessas organizações. 

No Brasil existem cerca de 2.600 hospitais filantrópicos, segundo dados da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa). Todavia, para a criação de sua base de dados, a pesquisadora conseguiu informações de 43 instituições. “Consegui dados de poucos hospitais se comparado a quantidade existente no Brasil e isso interfere no resultado. Também tive a limitação de ter que tratar as informações que o hospital fornece como verdadeiras, já que não conseguiria auditar os dados por si”, explica a pesquisadora sobre as dificuldades que encontrou em sua pesquisa documental. 

Porém, para Joice o foco da pesquisa deveria estar no Conselho e seu perfil de decisões administrativas. Através dos dados, a pesquisadora conseguiu traçar um padrão entre os membros e concluiu que em média as equipes são constituídas por até dez pessoas, sendo que a grande maioria é composta por homens e médicos.

Um ponto observado, no entanto, é que as mais sutis alterações no perfil dos membros podiam determinar grandes mudanças no desempenho. Segundos os dados, a variável com mais influência foi o nível de independência. “Notei que quanto maior o número de membros que eram de fora do hospital, maior era o desempenho financeiro. Por alguma razão, conselheiros externos são benéficos e tendem a tomar decisões mais sábias”, explica. 

O mesmo cenário acontecia quando se registrava a participação feminina. Alguns artigos apontam que as mulheres são conselheiras com desempenho superior aos demais. “Por ter um alto índice de homens, as pesquisas apontam que a presença da mulher é o mais próximo do papel de um conselheiro externo, independente dela ser interna ou não”. 

Como conclusão, Joice conseguiu chegar a um cenário inusitado. Ao analisar o desempenho, constatou que hospitais mais eficientes tendem a ter piores resultados financeiros. “Esses hospitais focam tanto em atender o maior volume possível de pacientes, que acabam deixando de lado a saúde financeira da empresa. Quanto maior o desempenho operacional, pior é o financeiro.” 

Ainda não existem pesquisas que expliquem o fenômeno e suas consequências. O período analisado pela pesquisadora é insuficiente para determinar se este perfil de hospital chegou a falência. No entanto, existem algumas teorias para explicar os fatos. “Boa parte dos atendimentos desses hospitais é pelo SUS e uma possibilidade é que ele não cubra os custos. Quanto mais eles atendem, pior eles ficam. O hospital teria que entender a própria estrutura de custos.” 

Joice espera que seus dados ajudem os Conselhos a buscar novas alternativas e pessoas diferentes para constituir as equipes. “Quero mostrar a importância de equilibrar o atendimento e o desempenho financeiro do hospital. É preciso encontrar um nível de atendimento adequado, de modo que cumpra a sua missão, e que ao mesmo tempo mantenha a saúde financeira o suficiente para sobreviver a longo prazo.” 

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