Monitoramento identifica evolução da Covid-19 em municípios brasileiros

Mapa mostra por meio de círculos vermelhos quais regiões do país podem ser mais afetadas pela doença

Monitoramento se assemelha ao feito pela Universidade John Hopkins para identificar os casos em todo o mundo [Foto: Martin Sanchez/Unsplash]

Com o alastramento da pandemia, tornou-se cada vez mais importante a identificação dos locais onde há maior ocorrência de casos de coronavírus – algo feito diariamente pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, por exemplo, com seu mapa interativo que contabiliza, em tempo real, os casos da Covid-19 no mundo. Mas as iniciativas americanas não têm sido as únicas na busca pelo acompanhamento da evolução dos casos. No Brasil, estudos que seguem essa mesma linha vêm ganhando força. É o caso do mapeamento realizado pelo grupo de estudo Espaço Urbano e Saúde, do Instituto de Estudos Avançados da USP. 

O Monitora-Clusters é um monitoramento criado em abril de 2020 com o objetivo de representar as áreas de alto risco para os casos e para os óbitos por Covid-19 no Brasil, identificadas por uma análise espacial. De acordo com Ligia Vizeu Barrozo, coordenadora do grupo de estudo, “a finalidade principal de identificar áreas de alto risco é orientar a gestão pública em tomadas de decisão”, o que contribui para o desenvolvimento de políticas públicas de combate à doença.

Ao explicar como o mapeamento funciona, Ligia conta que a análise faz uma varredura em todo o território nacional considerando a população de cada município e o número de casos ocorridos. Após os dados de cada cidade serem coletados, eles são dispostos no mapa do Brasil. “Imagine um círculo com o raio centrado em cada município. O raio do círculo se abre procurando envolver municípios com mais casos ocorridos em relação aos esperados para aquela população em comparação com a população de fora do círculo. Quando esse círculo é encontrado, há um cálculo estatístico para verificar se o agrupamento é significativo”, completa a pesquisadora.

Imagem do Monitora-Clusters do dia 6 de junho, mostrando as áreas de alto risco para casos e óbitos no Brasil [Foto: Monitora-Clusters/Espaço Urbano e Saúde/IEA]
Ao clicar em cada círculo disposto no mapa é possível saber o número de casos esperados para aquele município e a quantidade real de casos. Além disso, ele disponibiliza qual é a população de cada uma das cidades e o risco relativo. “O Risco Relativo (RR) dentro do círculo expressa a chance que essa população tem de ficar doente ou morrer da Covid-19. Por exemplo, se um agrupamento tem um RR de 2,5, então a população dentro desse círculo é 2,5 vezes mais propensa a ter a doença ou a morrer de Covid-19 em relação à área fora do círculo”, esclarece Ligia.

Ao falar sobre o monitoramento, ela cita as dificuldades de realização: “Estamos usando os dados compilados pela iniciativa Brasil.io e comparando com os totais disponibilizados pelo Ministério da Saúde. No entanto, os dados não apresentam a variável idade. Como a estrutura etária das populações dos municípios varia bastante, a informação sobre a idade dos casos e óbitos contribuiria para análises mais precisas”. 

Como em muitos estudos que vêm sendo desenvolvidos neste momento de pandemia, a subnotificação é um fator determinante e difícil de ser mensurado. O monitoramento realizado pelo grupo não trabalha com o cálculo dessa subnotificação, mas a coordenadora comenta que, assim como em qualquer análise, o mapeamento é afetado por esse aspecto. Estudos brasileiros mostram que o número de contaminados pode ser de 12 a 15 vezes maior do que o divulgado diariamente pelo Ministério da Saúde.

A aparência do mapa que vem sendo alimentado pelos pesquisadores se assemelha bastante àquela do divulgado diariamente pela John Hopkins. Apesar disso, o foco do monitoramento brasileiro é um pouco diferente: o Monitora-Clusters busca atuar, também, na prevenção. Segundo Ligia, o intuito com a identificação dessas áreas é o de auxiliar a gestão pública, indicando melhores caminhos para alocação de recursos humanos e materiais, orientando o distanciamento social e o envio ambulâncias para municípios sem serviço de saúde para os casos graves e apontando os locais com mais necessidade de se aumentar a testagem em casos suspeitos.

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