Exposição química pode colocar trabalhadores informais em grupo de risco do coronavírus

Foto: Michel Corvello/ Fotos Públicas

Segundo um estudo liderado pela pesquisadora Kelly Polido Kaneshiro Olympio, professora associada do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), alguns grupos de trabalhadores informais podem ser enquadrados como grupo de risco para o coronavírus. A pesquisa investiga os efeitos no sistema imunológico causados pela exposição química a alguns elementos tóxicos ao organismo humano.

O estudo “A exposição química presente no trabalho informal está associada à infecção por covid-19?” parte de uma pesquisa anteriormente conduzida pela biomédica Alda N. Miranda, orientada pelo professor Nilson Antonio Assunção e pela professora Olympio, que é líder do grupo de pesquisa “Expossoma e saúde do trabalhador”. “Coletamos saliva de soldadoras de bijuterias que realizam seus trabalhos, dentro de seus domicílios, em trabalho informal e terceirizado”, conta Olympio. Os resultados indicaram que o sistema imune desses trabalhadores era significativamente afetado pela exposição, o que poderia incluí-los como grupo de risco à infecção pelo coronavírus”.

Olympio explica que proteínas-alvo foram identificadas tanto nos trabalhadores quanto no grupo de controle, porém em quantidades diferentes nos grupos, indicando mudanças em processos básicos do metabolismo celular. Segundo a pesquisadora, o excesso de algumas dessas proteínas pode “afetar o metabolismo energético, produzindo um aumento nas espécies reativas de oxigênio. Além disso essas substâncias estão ligadas a alterações de proliferação celular, morte celular e expressão de proteínas citoprotetoras”. Há ainda mudanças em proteínas relacionadas a funções como resposta ao estresse e resposta imune.

Em outro estudo recente publicado pelo grupo, foram coletados elementos potencialmente tóxicos no ar da zona de respiração dos trabalhadores. As amostras de ar apresentaram altos níveis de substâncias como manganês, níquel, zinco, cádmio e chumbo. “Os níveis de cádmio, zinco e cobre superaram até os limites ocupacionais”, comenta Olympio. De acordo com a professora, os resultados “levantam preocupações, uma vez que as famílias, principalmente as crianças, estão no mesmo cenário de exposição”, o que pode impactar negativamente seu estado de saúde.

O resultado dos estudos indica uma necessidade de ações públicas para proteger trabalhadores de risco que é reforçada pela pandemia de covid-19. “O risco elevado de infecção não se limitou aos profissionais de saúde. A implementação de estratégias de prevenção e vigilância para populações trabalhadoras de alto risco deve ser garantida”, afirma Olympio. “As atividades domiciliares e informais em geral estão associadas com ambientes compartilhados entre trabalho e uso familiar, com pouco ou nenhum controle de contaminação dos trabalhadores e de suas famílias. Além disso, tais trabalhadores estão fora das estatísticas oficiais para implementação de vigilância e prevenção.” 

 

Arte: Gabriella Sales

Olympio indica que o grupo tem um estudo em andamento para verificar a diferença entre trabalhadores formais e informais, mas a hipótese é a de que a vulnerabilidade aumenta em cenários de trabalho informal. Nesses cenários, não há equipamentos de proteção individual e coletiva ou higiene ocupacional adequada, principalmente porque o trabalho ser realizado majoritariamente nas casas dos trabalhadores. “Limites tolerados de exposição em ambiente ocupacional são muito diferentes daqueles aceitos para o ambiente geral, onde temos crianças e pessoas imunodeprimidas, por exemplo”, diz.

A pesquisadora ressalta que medidas sociais seriam essenciais para proteger essa população, inclusive no contexto da pandemia. “Para esta população ter suas necessidades básicas atendidas, os governos precisam garantir que as políticas sociais funcionem. No caso de grupos de risco, mais vulneráveis, esta necessidade é crucial para garantir a proteção da saúde destas pessoas e não somente para reduzir a transmissibilidade da doença”, conclui.

 

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