Pesquisadora da USP estuda micronarrativas como estratégia de comunicação interna de empresas

Pesquisa de mestrado analisa como as narrativas pessoais podem melhorar a comunicação em ambientes corporativos

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Por João Paulo Machado de Almeida (jpalmeidanet@gmail.com)

As micronarrativas são as experiências vivenciadas pelas pessoas em todos os âmbitos, incluindo seu repertório, sua história, família, atitude e experiências. O papel dessas estruturas dentro da comunicação corporativa interna foi objeto de estudo da pesquisadora Emiliana Pomarico Ribeiro, por meio de dissertação de mestrado defendida em 2014 na Escola de Comunicações e Artes, ECA-USP.

Ela explica que dentro de cada pessoa há uma infinidade de personagens que ora se exibem ora se ocultam, ora existem e atuam, ora estão apenas na imaginação de cada um.

Separar a trajetória de vida de um indivíduo e recortar o seu comportamento dentro de uma corporação, considerando apenas seu comportamento profissional é impossível.

“Cada um tem em si universos de sonhos e ambições, mas também galáxias de incertezas e de medos. Explosões de felicidade e implosões de infelicidade. Impulsos insaciados de desejos e de não quereres. Memórias que são únicas, gestadas de experiências singulares – e memórias construídas coletiva e socialmente. Há emoções e afetos, positivos e negativos. Isso tudo constrói as micronarrativas de um indivíduo. Sempre foi assim. Somos nossas histórias”, afirma Ribeiro.

O ser humano age de acordo com suas experiências anteriores, valores próprios, crenças e vínculos. Assim, a pesquisadora relembra a importância da humanização no ambiente organizacional: “Antes de ser um profissional, somos seres humanos, com narrativas que transmitimos para outras pessoas e que repetimos para nós mesmos. É preciso valorizar essas histórias. Através delas é possível não apenas descobrir sentimentos e talentos, como também, entender comportamentos e motivações, ou então, perceber onde estão as dificuldades e suas possíveis superações.”

O valor de cada história é único e reconhecer isto no contexto atual, com as tecnologias e a profusão de informação a todo instante, é um desafio. Muitos processos são efêmeros e sem profundidade, além do famigerado déficit de atenção também. “As reflexões embasadas sob a ótica de um contexto digital, fluido, randômico, racional e exposto demonstram que não há espaço hoje para tradições, experiências profundas, mitos, histórias e afetos nas organizações”, afirma Ribeiro.

Foram feitas diversas entrevistas, com oito perfis diferentes, de oito corporações distintas e esses resultados mostram que independentemente de suas personalidades, idades ou tempo de empresa, todos trazem depoimentos de vida com experiências riquíssimas.

Storytelling é uma lógica de estruturação do pensamento e um formato de organização e difusão de narrativa, derivando relatos diversos.As narrativas são um tipo de storytelling, depoimentos reais funcionários e integrantes de empresas, que é o organizational storytelling, dando a eles sua devida voz dentro do grande universo que são as organizações corporativas.

Assim, o resultado é mostrar como pequenos momentos, as lembranças, histórias, detalhes, e até fatos aparentemente não importantes, podem ser momentos muito relevantes, ou até mesmo os mais valiosos que uma pessoa pode possuir, colaborando assim através dessas histórias para que se reflita uma comunicação interna cada vez mais eficaz. Isso contraria um pouco a tecnologia e realidades atuais, onde tudo é efêmero e com relações pessoais frias e superficiais.

Comunicar não é apenas informar, e sim interagir. E a comunicação interna na atualidade ainda deixa muito a desejar. Ribeiro diz que é necessário que as empresas compreendam que a comunicação é troca, inspiração e transformação, não necessariamente de forma controlada, intencional e consciente. As interações permitem a criação de uma comunicação com novas narrativas, mais eficientes e ao mesmo tempo mais efetivas.

Ela aponta o papel da narrativa e do diálogo na sociedade: “Assim, quebrando o automatismo, essas narrativas devem ser formadas pela construção colaborativa, para uma sociedade mais justa, democrática, transparente e participativa. Narrativas capazes de transformar, provocar e instigar. Novas narrativas com base em valores fundamentados na solidariedade, na confiança, na transparência, na multiplicidade de opiniões, na diversidade, no antirracismo, na alteridade e no humanismo.”

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