Investigação sobre câncer ósseo em cães sugere solução alternativa à amputação

A pesquisa envolve aplicar a substância genisteína para interromper a multiplicação das células cancerígenas

O osteossarcoma atinge geralmente os ossos dos membros caninos, podendo causar fraturas patológicas. Imagem: charlesloopsdvm.com

Por Laís Ribeiro – la.ribeiro97@gmail.com

A genisteína, composto químico derivado da soja, mostrou capacidade de funcionar como agente de indução da diferenciação celular em tecidos atingidas pelo osteossarcoma. A doença é o câncer que mais atinge cães dentro dos tumores ósseos, e tem por tratamento mais comum a amputação dos membros afetados. Essa solução, no entanto, é mal-vista entre os proprietários, que na maioria das vezes preferem arriscar quimioterapia a permitir que seus bichos de estimação vivam sem um membro.

O estudo foi realizado por Daniel Soares Sanches, pós-graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ), que estruturou mestrado e doutorado nessa mesma linha de pesquisa. Sanches buscou, em seus experimentos, encontrar um método de tratamento alternativo para o osteossarcoma e acabou se deparando com os efeitos da genisteína na maturação das células tumorais.

Todas as células do corpo passam por uma diferenciação a partir do nascimento, para que possam exercer funções distintas entre si e proporcionar o funcionamento dos diferentes órgãos dos seres vivos. A ideia de Sanches é forçar a diferenciação das células tumorais até sua fase final, assim promovendo a chamada senescência celular, ou seja, o estágio no qual uma célula não se multiplica mais. Os tumores, que nascem devido à multiplicação descontrolada de células defeituosas, poderiam, então, ser contidos e combatidos com maior eficácia.

A pesquisa concluiu recentemente sua primeira etapa, na qual Sanches cultivou células de osteossarcoma canino no laboratório, tratando com genisteína e analisando os efeitos produzidos. Em seguida, o pesquisador irá incorporar o modelo animal de experimentação e por último passar para os testes em cães, examinando possíveis efeitos colaterais do químico no organismo. Na cultura celular, já se observaram três principais resultados: indução de diferenciação celular parcial, diminuição da motilidade celular e até indução de morte celular do tumor por apoptose (mecanismo de defesa das células que leva à a autodestruição).

Todas as respostas foram positivas, mas a diminuição da motilidade em particular chama atenção por estar relacionada à metástase, a mais grave complicação derivada de um tumor. “Metástase é quando uma célula que está crescendo em, por exemplo, uma perna ou outro membro se solta do nódulo principal, ganha a corrente sanguínea e vai parar em órgãos mais críticos, como o pulmão”, explica Sanches. “Noventa por cento dos cães com osteossarcoma morrem por metástase ou complicação de metástase.

Exemplo de metástase em um câncer de pele. As células se multiplicam e invadem a corrente sanguínea. Fonte: eCancerLatinoamerica

Com seu estudo, Daniel espera conseguir melhorar a qualidade de vida dos animais atingidos pelo câncer e aumentar sua sobrevida em pelo menos alguns meses. Uma vitória, considerando-se a expectativa de vida geral dos cães. “É tudo muito experimental ainda”, diz. Existe também a questão de se testar os efeitos da genisteína no organismo canino e dentro de uma combinação de medicamentos. Caso os resultados se concretizem, há grande possibilidade de serem adotados também para pesquisas sobre o osteossarcoma humano.

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