Pesquisa da USP analisa redução no desmatamento Amazônico

Estudo da USP discute os fatores responsáveis pela diminuição do desmatamento entre 2005 e 2013

Pesquisa aponta elementos responsáveis pela diminuição. Fonte: Observatório do Agronegócio no Brasil. Reprodução

Por Vinícius Bernardes Mondin Guidio – vguidio@ig.com.br

De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Especiais (Inpe), a taxa desflorestamento amazônico apresentou uma redução em mais de 80% de 2004 até 2015. Tamanha diminuição pode ser atribuída ao conjunto de políticas públicas aplicadas na região, com o objetivo de conservar a vegetação da floresta. Entre as medidas empregadas, o Plano de Ação para Preservação e Controle do desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), criado em 2004, foi o que alcançou os resultados mais significativos para a obtenção desse número, criando condições viáveis para um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal. Nessa perspectiva, a pesquisa Análise dos fatores responsáveis pela redução no desmatamento na Amazônia Legal entre os anos de 2005 e 2013, desenvolvida pela mestra em Ciência Ambiental (Procam) pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da USP,  Natália Rodrigues de Mello, discute essa questão, apresentando os elementos responsáveis por essa diminuição.

Natália destaca, ao longo da análise, a importância da diminuição do desmatamento na atual conjuntura global. A expressiva redução observada na Amazônia é, segundo a pesquisa, produto da ação de fatores políticos, econômicos e culturais, desenvolvidos na região no período de realização do estudo. A partir da coleta de informações, por meio de entrevistas, e da comparação com dados estatísticos anteriores, Natália conseguiu determinar cinco principais vetores de desmatamento. Entre esses se encontram: a produção de soja, a criação de gado, a exploração madeireira, a expansão de obras de infraestrutura e a especulação fundiária.

A redução no desflorestamento pode ser atribuída a um conjunto de fatores que favoreceram uma ausência de estímulo à retirada da vegetação amazônica. Natália destaca o baixo preço das commodities (soja e carne de boi) como um dos responsáveis por isso, uma vez que o baixo valor de mercado desses não tornava rentável a exploração de vastas áreas florestais para suas respectivas produções na época. Aliado a isso, o estudo aponta que o aumento nas taxas cambiais entre 2005  e 2007 ampliaram ainda mais essa redução, à medida que diminuíram significativamente o valor dos possíveis lucros a serem obtidos com o comércio de tais produtos. “Apesar de avanços terem sido alcançados, a expansão de atividades agropecuárias na Amazônia Legal continua sendo o principal vetor de desmatamento na região”, ressalta a pesquisadora.

O  estudo destaca ainda que o aumento da fiscalização e do monitoramento da área também se apresentaram como importantes fatores para essa diminuição. A pesquisadora aponta a criação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal em 2004 como um dos grandes responsáveis pelo decréscimo observado, à medida que esse teve como proposta o combate intensivo da retirada florestal. Estruturado em três eixos, o plano buscava reverter o problema por meio do “Ordenamento Fundiário e Territorial”,  do “Monitoramento e Controle Ambiental” e do “Fomento às atividades produtivas sustentáveis”.       

Em um plano secundário, a mestra ressalta a importância de acordos como a moratória da soja e da carne, que “boicotavam” tais produtos  quando esses derivassem de regiões destruídas da amazônia. Estabelecido em 2006, a “moratória da soja” foi fundamental para a diminuição da exploração desse produto, que havia crescido em 30% nos anos que precederam a medida  segundo estudo desenvolvido pela revista americana “Science”.  Natália destaca que “a instituição de moratórias como a da Carne e a da Soja foram importantes ferramentas no combate ao desmatamento.Além disso, produtores passaram a encontrar dificuldades para a exportar produtos de áreas que constam na ‘lista negra’ de municípios desmatadores.”

Além da conservação florestal da Amazônia, a redução contribuiu, de acordo com a pesquisa, para a redução no volume de gases estufa emitidos no ambiente. Em meio a um contexto global de elevada emissão desses, diminuir a retirada da vegetação amazônica torna-se fundamental para a reversão do alarmante quadro de poluição existente hoje. Segundo Natália, o manejo do solo de forma inapropriada potencializa a produção de gases dessa natureza, agravando a atual situação. “É inegável que a interação entre remoção de vegetação e alterações climáticas é significativa, já que grande parte da biomassa das árvores (galhos, tocos e raízes) removidas se decompõem”, destaca a mestra.

A pesquisadora aponta também a possibilidade dessa conjuntura de fatores se exaurir. Para ela, um aumento na demanda por commodities, assim como uma ampliação nas obras de infraestrutura (rodovias, hidrovias e portos) podem fragilizar a crescente redução observada até o momento. Natália ressalta que, apesar dos avanços, questões como exploração ilegal da madeira e os incêndios naturais, ocorridos na floresta, ainda se apresentam com importantes entraves, que precisam ser analisados. “Embora existam programas governamentais de combate à exploração ilegal madeireira e de incêndios florestais, tais programas ainda não alcançaram o efeito necessário.”

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