Estudo busca compreender a formação humana em contexto de violência

Nova pesquisa investiga as repercussões que contextos violentos geram nas pessoas

Foco no bairro do Uruguai em Salvador, Bahia. Blog do Amarildo. Reprodução

Por Mateus de Lucena Feitosa – mateuslfeitosa@gmail.com

Com o intuito de compreender as vivências fundamentais de pessoas que vivem em contexto violentos, bem como entender a repercussões que este meio tem sobre sua formação psicológica, a pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Suzana Carneiro, visitou o bairro do Uruguai em Salvador, Bahia, para escrever sua tese de doutorado: A formação humana em contexto de violência: uma compreensão clínica a partir da fenomenologia de Edith Stein.

Carneiro se interessou pelo bairro do Uruguai por intermédio de uma comunidade religiosa, da qual faz parte, que organiza projetos sociais de auxílio à população local. A pesquisadora decidiu investigar o contexto do bairro, sua influência na vida daqueles que o habitam e tenta trazer uma visão diferente e mais humana do lugar estabelecendo um contraponto à visão vigente de indiferença e, muitas vezes, de preconceito em relação ao bairro do Uruguai.

Usando da sua relação com a comunidade religiosa local, a pesquisadora conseguiu ir quatro vezes ao bairro passando de 10 a 15 dias morando na casa dos moradores locais. Por meio de entrevistas e anotações pessoais, Carneiro busca entender o cotidiano da comunidade.  Adepta da fenomenologia, seu intuito era vivenciar o dia a dia e entender a realidade do Uruguai.  “Fui muito bem acolhida pelas pessoas, minha intenção era vivenciar o cotidiano local e ir além dos relatos”, afirmou.

Um dos grandes objetivos da tese era trazer a importância da compreensão da vivência diária da população do Uruguai em vez de tentar fazê-la se encaixar em teorias. Enxergar a importância do indivíduo e entender sua complexidade. “Essa pesquisa me ajudou a quebrar barreiras, abandonar preconceitos e o maniqueísmo para enxergar o ser humano’’, relata ”Temos que olhar para questão psicológica sem perder de vista o todo, os diversos fatores que têm influência sobre o indivíduo”, complementa.

Quando questionada sobre a participação das polícias comunitárias no bairro, a pesquisadora relata que as opiniões ainda divergem. Existe muita desconfiança por parte dos moradores e muito preconceito por parte dos policiais. Carneiro chegou a entrevistar uma das autoridades locais que não autorizou a divulgação da conversa. “Apesar da proposta das bases comunitárias ser a aproximação das autoridades com a população, a relação ainda é muito tensa devido ao histórico da polícia”, diz. A pesquisadora ainda conta de relatos que recebeu de moradores locais que já presenciaram a violência policial e até mesmo a morte de pessoas inocentes, tornando a situação ainda mais complicada.

Para Carneiro, o que fica de sua pesquisa é a força que presenciou das pessoas que vivem sobre contextos violentos. “O contexto de violência não anula a pessoa, nas piores condições ainda é possível dar uma resposta”, relata. A pesquisadora ainda pensou em formas de intervenções que poderia auxiliar pessoas vivendo sob tais condições. Ela frisou a importância da criação de um canal de expressão de reflexão dentro dessas comunidades: “isso ajuda as pessoas a se fortalecerem para se colocarem de uma forma mais livre diante de sua realidade”.

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