Entraves na implementação de estratégias em empresas é tema de mestrado

Pesquisadora analisou as dificuldades da execução de planos em organizações brasileiras e propôs sugestões de melhoria

pesquisadora reforçou a importância da comunicação na implementação de estratégias. Fonte: paydiamondteam.com

Por Nelson Niero Neto – nelson.niero.neto@gmail.com

Kelly Sacramento está envolvida com estratégias no mundo corporativo há mais de dez anos. “Trabalhei com todas as vertentes, do planejamento à execução. E percebi que, muitas vezes, mesmo com um plano bem estruturado, a aplicação prática não funcionava da melhor maneira e ninguém conseguia identificar o problema”.

Com essa questão em mãos, ela tentou encontrar na literatura sobre o assunto algum esclarecimento. “A maior parte das pesquisas eram estrangeiras”, conta, “o que dificultava a aplicação dos conceitos em empresas brasileiras”.

Kelly então resolveu fazer um mestrado sobre o tema na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Seu principal objetivo era identificar o que atrapalhava e o que ajudava a implementação de estratégias no Brasil. “As coisas dão errado. Eu queria entender por quê”.

Em seguida, a pesquisadora começou uma análise teórica para basear seu trabalho. A partir dela, formulou duas hipóteses iniciais.

A primeira foi embasada na tese de livre docência de seu orientador, Adalberto A. Fischmann. A pesquisa, de 1987, identificou que o principal problema para implementar uma estratégia era a economia instável, marcada por alta inflação, que o país tinha naquele momento.

“O resultado do trabalho apontou para um resultado conjuntural, e isso faz sentido considerando o contexto da época”, explica Kelly. “Mas, como muita coisa mudou desde então, resolvi investigar se existiam questões internas por trás da dificuldade de colocar um plano em prática”.

A segunda hipótese foi fundamentada a partir de pesquisas estrangeiras, que apontavam os fatores humanos – caso do relacionamento entre os funcionários – como os componentes mais importantes para o sucesso da implementação de uma estratégia, e não os fatores estruturais – por exemplo, o sistema de controle e gestão de uma empresa. “Como essas pesquisas eram de outros países, decidi tentar confirmar se, no Brasil, essas conclusões também poderiam ser identificadas”.

Com as hipóteses estabelecidas, Kelly preparou um questionário baseado na literatura estudada. “Identifiquei na teoria o que era apontado como os principais entraves para o sucesso de um plano estratégico”, conta. “Um exemplo demonstrado é a própria formulação do projeto: às vezes, a ideia inicial não antecipava problemas futuros, ou tinha uma visão incoerente com a cultura da empresa”.

“A literatura também indicava alguns facilitadores e possíveis soluções para esses obstáculos”, explica Kelly. “Essa pesquisa teórica tornou possível a composição do questionário”.

Com 69 respostas de gestores de grandes empresas brasileiras, a pesquisadora pôde comparar os dados obtidos com suas hipóteses iniciais.

“Diferente dos resultados da última pesquisa sobre o tema, que apontou a questão conjuntural como principal entrave na execução das estratégias, percebi que os problemas internos são tão ou mais influentes atualmente”, explica.

Dentre essas adversidades apontadas, grande parte se refere ao relacionamento entre os envolvidos no plano de ação. “Não é possível confirmar os resultados das pesquisas estrangeiras e ratificar que os fatores humanos são a principal questão que pode atrapalhar uma estratégia”, explica a pesquisadora. “Mas, de fato, eles foram muito citados pelos entrevistados como entraves recorrentes.”

Entre eles, o que mais chama a atenção é a importância da comunicação. “As respostas indicam que existe uma falta de diálogo e pouco compartilhamento de resultados e informações”, explica Kelly. “É comum que problemas sejam identificados apenas no momento da execução por quem está aplicando o projeto. Esses obstáculos não foram previstos pelos que formularam a estratégia, e esses dois grupos não trocam experiências.”

Desenvolver a comunicação empresarial, para ela, é fundamental. “Quem está colocando em prática uma ideia precisa ter a liberdade, para, em um momento de dúvida, bater na porta do superior que formulou a proposta e conversar. Isso não acontece na maior parte das empresas brasileiras”.

Além disso, o mestrado também contribui indicando que é necessário melhorar o relacionamento entre as unidades de negócio das organizações. “Essa é uma questão que vai além da comunicação. Os conflitos de interesse e atividades entre áreas diferentes podem gerar competição interna e dificultar uma coordenação mútua”, afirma Kelly. “Unidades de negócio distintas, como marketing e finanças, por exemplo, precisam estreitar suas relações e cooperarem juntas na execução de um plano estratégico”.

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